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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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500 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

relações externas, nem nossa consciência de nós mesmos a<br />

simples notação de acontecimentos psíquicos. Só percebemos<br />

um mundo se, antes de serem fatos constatados, esse mundo<br />

e essa percepção forem pensamentos nossos. Falta compreender<br />

exatamente a pertença do mundo ao sujeito e do sujeito<br />

a si mesmo, essa cogitatio que torna possível a experiência, nosso<br />

poder sobre as coisas e sobre nossos "estados de consciência".<br />

Veremos que ela não é indiferente ao acontecimento<br />

e ao tempo, que ela é antes o modo fun<strong>da</strong>mental do acontecimento<br />

e <strong>da</strong> Geschichte, <strong>da</strong> qual os acontecimentos objetivos e<br />

impessoais são formas deriva<strong>da</strong>s, e enfim que o recurso à eterni<strong>da</strong>de<br />

só é tornado necessário por uma concepção objetiva<br />

do tempo.<br />

Portanto, é indubitável que eu penso. Não estou seguro<br />

de que ali exista um cinzeiro ou um cachimbo, mas estou seguro<br />

de que penso ver um cinzeiro ou um cachimbo. Seria<br />

tão fácil quanto se acredita dissociar essas duas afirmações<br />

e manter, fora de qualquer juízo concernente à coisa vista,<br />

a evidência de meu "pensamento de ver"? Ao contrário, isso<br />

é impossível. A percepção é justamente este gênero de ato<br />

em que não se poderia tratar de colocar à parte o próprio ato<br />

e o termo sobre o qual ele versa. A percepção e o percebido<br />

têm necessariamente a mesma mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de existencial, já que<br />

não se poderia separar <strong>da</strong> percepção a consciência que ela tem,<br />

ou, antes, que ela é, de atingir a coisa mesma. Não se pode<br />

tratar de manter a certeza <strong>da</strong> percepção recusando a certeza<br />

<strong>da</strong> coisa percebi<strong>da</strong>. Se vejo um cinzeiro no sentido pleno <strong>da</strong> palavra<br />

ver, é preciso que ali exista um cinzeiro, e não posso reprimir<br />

essa afirmação. Ver é ver algo. Ver o vermelho é ver<br />

o vermelho existindo em ato. Só se pode reduzir a visão à<br />

simples presunção de ver se a representamos como a contemplação<br />

de um quale flutuante e sem ancoragem. Mas se, como<br />

o dissemos acima, a própria quali<strong>da</strong>de, em sua textura<br />

específica, é a sugestão que nos é feita, e à qual nós respon-

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