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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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450 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

pela ação dos estímulos físicos nos mesmos centros nervosos.<br />

A primeira vista, não há na<strong>da</strong> de comum entre essas hipóteses<br />

fisiológicas e a concepção intelectualista. Na reali<strong>da</strong>de, como<br />

se vai ver, ambas têm em comum o fato de que as duas<br />

doutrinas supõem a priori<strong>da</strong>de do pensamento objetivo, dispõem<br />

apenas de um único modo de ser, o ser objetivo, e nele<br />

procuram introduzir à força o fenômeno alucinatório. Através<br />

disso, elas o falseiam, perdem seu modo próprio de certeza<br />

e seu sentido imanente, já que, segundo o próprio doente,<br />

a alucinação não tem lugar no ser objetivo. Para o empirismo,<br />

a alucinação é um acontecimento na cadeia de acontecimentos<br />

que vai do estímulo ao estado de consciência. No<br />

intelectualismo, procura-se desembaraçar-se <strong>da</strong> alucinação,<br />

construí-la, deduzir aquilo que ela pode ser a partir de uma<br />

certa idéia <strong>da</strong> consciência. O cogito nos ensina que a existência<br />

<strong>da</strong> consciência confunde-se com a consciência de existir,<br />

que portanto nela não pode haver na<strong>da</strong> sem que ela o saiba,<br />

que, reciprocamente, tudo aquilo que sabe com certeza ela<br />

o encontra em si mesma, que por conseguinte a ver<strong>da</strong>de ou<br />

a falsi<strong>da</strong>de de uma experiência não devem consistir em sua<br />

relação a um real exterior, mas devem ser legíveis nela a título<br />

de denominações intrínsecas, sem o que nunca poderiam<br />

ser reconheci<strong>da</strong>s. Assim, as percepções falsas não são ver<strong>da</strong>deiras<br />

percepções. O alucinado não pode ouvir ou ver no sentido<br />

forte desses termos. Ele julga, ele crê ver ou ouvir, mas<br />

não vê, não ouve efetivamente. Essa conclusão não salva nem<br />

mesmo o cogito: com efeito, restaria saber como um sujeito<br />

pode crer que ouve quando efetivamente não ouve. Se se diz<br />

que essa crença é simplesmente assertiva, que é um conhecimento<br />

do primeiro gênero, uma dessas aparências flutuantes<br />

nas quais não se crê no sentido pleno <strong>da</strong> palavra e que só subsistem<br />

por falta de crítica, em suma um simples estado de fato<br />

de nosso conhecimento, será preciso então saber como uma<br />

consciência pode estar, sem o saber, nesse estado de incom-

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