12.04.2013 Views

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

206 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

longa e fria 2 não ignoram, propriamente falando, seus contornos<br />

objetivos e, mesmo quando o doente procura seu braço<br />

sem encontrá-lo ou o amarra para não perdê-lo 3 , ele sabe<br />

onde está seu braço, já que é ali que o procura e que o amarra.<br />

Se to<strong>da</strong>via os doentes sentem o espaço de seu braço como<br />

estranho, se em geral eu posso sentir o espaço de meu corpo<br />

enorme ou minúsculo, a despeito do testemunho de meus sentidos,<br />

é porque existe uma presença e uma extensão afetivas<br />

<strong>da</strong>s quais a espaciali<strong>da</strong>de objetiva não é condição suficiente,<br />

como o mostra a anosognosia, e nem mesmo condição necessária,<br />

como o mostra o braço fantasma. A espaciali<strong>da</strong>de do<br />

corpo é o desdobramento de seu ser de corpo, a maneira pela<br />

qual ele se realiza como corpo. Ao procurar analisá-la, apenas<br />

antecipamos aquilo que temos a dizer <strong>da</strong> síntese corporal<br />

em geral.<br />

Reencontramos na uni<strong>da</strong>de do corpo a estrutura de implicação<br />

que já descrevemos a propósito do espaço. As diferentes<br />

partes de meu corpo — seus aspectos visuais, táteis e<br />

motores — não são simplesmente coordena<strong>da</strong>s. Se estou sentado<br />

à minha mesa e quero alcançar o telefone, o movimento<br />

de minha mão em direção ao objeto, o aprumo do tronco,<br />

a contração dos músculos <strong>da</strong>s pernas envolvem-se uns aos outros;<br />

desejo um certo resultado e as tarefas distribuem-se por<br />

si mesmas entre os segmentos interessados, as combinações<br />

possíveis sendo antecipa<strong>da</strong>mente <strong>da</strong><strong>da</strong>s como equivalentes:<br />

posso permanecer encostado na poltrona, sob a condição de<br />

esticar mais o braço, ou inclinar-me para a frente, ou mesmo<br />

levantar-me um pouco. Todos esses movimentos estão à nossa<br />

disposição a partir de sua significação comum. É por isso<br />

que, nas primeiras tentativas de preensão, as crianças não<br />

olham sua mão, mas o objeto: os diferentes segmentos do corpo<br />

só são conhecidos em seu valor funcional e sua coordenação<br />

não é apreendi<strong>da</strong>. Da mesma forma, quando estou sentado<br />

à minha mesa, posso "visualizar" instantaneamente as

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!