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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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62 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

<strong>da</strong>de fornece conforme os estímulos corporais 20 , uma "hipótese"<br />

que o espírito forma para "explicar-se suas impressões"<br />

21 . Mas também o juízo, introduzido para explicar o<br />

excesso <strong>da</strong> percepção sobre as impressões retinianas, em lugar<br />

de ser o próprio ato de perceber apreendido do interior<br />

por uma reflexão autêntica, volta a ser um simples "fator"<br />

<strong>da</strong> percepção, encarregado de fornecer aquilo que o corpo não<br />

fornece — em lugar de ser uma ativi<strong>da</strong>de transcendental, ele<br />

volta a ser uma simples ativi<strong>da</strong>de lógica de conclusão 22 . Através<br />

disso somos levados para fora <strong>da</strong> reflexão, e construímos<br />

a percepção em lugar de revelar seu funcionamento próprio;<br />

mais uma vez, deixamos escapar a operação primordial que<br />

impregna o sensível de um sentido e que to<strong>da</strong> mediação lógica<br />

assim como to<strong>da</strong> causali<strong>da</strong>de psicológica pressupõem. Resulta<br />

disso que a análise intelectualista termina por tornar incompreensíveis<br />

os fenômenos perceptivos que deveria iluminar.<br />

Enquanto o juízo perde sua função constituinte e tornase<br />

um princípio explicativo, as palavras "ver", "ouvir",<br />

"sentir" perdem qualquer significação, já que a menor visão<br />

ultrapassa a impressão pura e assim volta a ficar sob a<br />

rubrica geral do "juízo". Entre o sentir e o juízo, a experiência<br />

comum estabelece uma diferença bem clara. O juízo<br />

é para ela uma toma<strong>da</strong> de posição, ele visa conhecer algo de<br />

válido para mim mesmo em todos os momentos de minha vi<strong>da</strong><br />

e para os outros espíritos existentes ou possíveis; sentir,<br />

ao contrário, é remeter-se à aparência sem procurar possuíla<br />

ou saber sua ver<strong>da</strong>de. Essa distinção se apaga no intelectualismo,<br />

porque o juízo está em to<strong>da</strong>s as partes em que não<br />

está a pura sensação, quer dizer, em to<strong>da</strong>s as partes. O testemunho<br />

dos fenômenos, portanto, será recusado em to<strong>da</strong>s as<br />

partes. Uma grande caixa de papelão me parece mais pesa<strong>da</strong><br />

do que uma caixa pequena feita do mesmo papelão e, atendome<br />

aos fenômenos, eu diria que previamente a sinto pesa<strong>da</strong><br />

em minha mão. Mas o intelectualismo delimita o sentir pela

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