12.04.2013 Views

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

126 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

instantes, está em posição de <strong>da</strong>r seu sentido definitivo ao nosso<br />

próprio passado, e de reintegrar à existência pessoal até<br />

mesmo este passado de todos os passados que as estereotipias<br />

orgânicas nos fazem adivinhar na origem de nosso ser voluntário.<br />

Nessa medi<strong>da</strong>, até mesmo os reflexos têm um sentido,<br />

e o estilo de ca<strong>da</strong> indivíduo ain<strong>da</strong> é visível neles assim como<br />

o batimento do coração se faz sentir até na periferia do corpo.<br />

Mas justamente este poder pertence a todos os presentes,<br />

aos antigos presentes assim como ao novo. Mesmo se pretendemos<br />

compreender nosso passado melhor do que ele se compreende<br />

a si mesmo, ele sempre pode recusar nosso juízo presente<br />

e encerrar-se em sua evidência autista. Ele o faz até mesmo<br />

necessariamente enquanto eu o penso como um antigo<br />

presente. Ca<strong>da</strong> presente pode pretender fixar nossa vi<strong>da</strong>, é<br />

isso que o define como presente. Enquanto ele se faz passar<br />

pela totali<strong>da</strong>de do ser e preenche um instante <strong>da</strong> consciência,<br />

nós nunca nos libertamos dele inteiramente, o tempo nunca<br />

se fecha inteiramente com ele, que permanece como uma feri<strong>da</strong><br />

por onde nossa força se escoa. Com maior razão, o passado<br />

específico que é nosso corpo só pode ser reapreendido<br />

e assumido por uma vi<strong>da</strong> individual porque ela nunca o transcendeu,<br />

porque ela o alimenta secretamente e emprega nisso<br />

uma parte de suas forças, porque ele permanece seu presente,<br />

como se vê na doença em que os acontecimentos do corpo<br />

se tornam os acontecimentos <strong>da</strong> jorna<strong>da</strong> diária. O que nos<br />

permite centrar nossa existência é também o que nos impede<br />

de centrá-la absolutamente, e o anonimato de nosso corpo é<br />

inseparavelmente liber<strong>da</strong>de e servidão. Assim, para nos resumir,<br />

a ambigüi<strong>da</strong>de do ser no mundo se traduz pela ambigüi<strong>da</strong>de<br />

do corpo, e esta se compreende por aquela do tempo.<br />

Mais tarde voltaremos ao tempo. Por agora, mostremos<br />

apenas que a partir deste fenômeno central as relações entre<br />

o "psíquico" e o "fisiológico" tornam-se pensáveis. Primeiramente,<br />

por que as recor<strong>da</strong>ções que se relembra ao ampu-

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!