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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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O SER-PARA-SI E O SER-NO-MUNDO 589<br />

figura particular deste mundo, ela só põe suas estruturas gerais.<br />

Isso vem a <strong>da</strong>r no mesmo, responder-se-á; se minha liber<strong>da</strong>de<br />

condiciona a estrutura do "existe", a do "aqui",<br />

a do "ali", ela está presente em to<strong>da</strong>s as partes em que essas<br />

estruturas se realizam, nós não podemos distinguir a quali<strong>da</strong>de<br />

de "obstáculo" e o próprio obstáculo, reportar uma à<br />

liber<strong>da</strong>de e o outro ao mundo em si que, sem ela, só seria<br />

uma massa amorfa e inominável. Portanto, não é fora de mim<br />

que posso encontrar um limite à minha liber<strong>da</strong>de. Mas eu<br />

não o encontraria em mim? Com efeito, é preciso distinguir<br />

entre minhas intenções expressas, por exemplo o projeto que<br />

formo hoje de transpor estas montanhas, e intenções gerais<br />

que valorizam virtualmente minha circunvizinhança. Quer<br />

eu tenha ou não decidido escalá-las, estas montanhas me parecem<br />

grandes porque ultrapassam o poder de meu corpo,<br />

e mesmo se acabo de ler Micromegas não posso fazer com que<br />

para mim elas sejam pequenas. Abaixo de mim enquanto sujeito<br />

pensante, que posso ao meu bel-prazer situar-me em Sirius<br />

ou na superfície <strong>da</strong> terra, existe portanto como que um<br />

eu natural que não abandona sua situação terrestre e que sem<br />

cessar esboça valorizações absolutas. Mais: meus projetos de<br />

ser pensante visivelmente são construídos sobre estas; se decido<br />

ver as coisas do ponto de vista de Sirius, é ain<strong>da</strong> à minha<br />

experiência terrestre que recorro para fazê-lo: digo por<br />

exemplo que os Alpes são um montículo. Enquanto tenho mãos,<br />

pés, um corpo, um mundo, em torno de mim produzo intenções<br />

que não são decisórias e que afetam minha circunvizinhança<br />

com caracteres que não escolho. Essas intenções são<br />

gerais em um duplo sentido, em primeiro lugar no sentido<br />

em que elas constituem um sistema em que todos os objetos<br />

possíveis estão de um só golpe encerrados: se a montanha me<br />

parece grande e reta, a árvore me parece pequena e oblíqua,<br />

a seguir no sentido em que elas não me são próprias, elas vêm<br />

de mais longe do que eu e não fico surpreso de reencontra-

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