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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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o CORPO 267<br />

alcançar-se e é por isso que ela cria a fala como apoio empírico<br />

de seu próprio não-ser. A fala é o excesso de nossa existência<br />

por sobre o ser natural. Mas o ato de expressão constitui<br />

um mundo lingüístico e um mundo cultural, ele faz voltar<br />

a cair no ser aquilo que tendia para além. Daí a fala fala<strong>da</strong><br />

que desfruta as significações disponíveis como a uma fortuna<br />

obti<strong>da</strong>. A partir dessas aquisições, tornam-se impossíveis<br />

outros atos de expressão autêntica — aqueles do escritor, do<br />

artista ou do filósofo. Essa abertura sempre recria<strong>da</strong> na plenitude<br />

do ser é o que condiciona a primeira fala <strong>da</strong> criança,<br />

assim como a fala do escritor, a construção <strong>da</strong> palavra, assim<br />

como a dos conceitos. É essa função que adivinhamos através<br />

<strong>da</strong> linguagem, que se reitera, apóia-se em si mesma ou<br />

que, assim como uma on<strong>da</strong>, ajunta-se e retoma-se para<br />

projetar-se para além de si mesma.<br />

Melhor ain<strong>da</strong> do que nossas observações sobre a espaciali<strong>da</strong>de<br />

e a uni<strong>da</strong>de corporais, a análise <strong>da</strong> fala e <strong>da</strong> expressão<br />

nos faz reconhecer a natureza enigmática do corpo próprio.<br />

Ele não é uma reunião de partículas <strong>da</strong>s quais ca<strong>da</strong> uma<br />

permaneceria em si, ou ain<strong>da</strong> um entrelaçamento de processos<br />

definidos de uma vez por to<strong>da</strong>s — ele não está ali onde<br />

está, ele não é aquilo que é — já que o vemos secretar em<br />

si mesmo um "sentido" que não lhe vem de parte alguma,<br />

projetá-lo em sua circunvizinhança material e comunicá-lo<br />

aos outros sujeitos encarnados. Sempre observaram que o gesto<br />

ou a fala transfiguravam o corpo, mas contentavam-se em<br />

dizer que eles desenvolviam ou manifestavam uma outra potência,<br />

pensamento ou alma. Não se via que, para poder<br />

exprimi-lo, em última análise o corpo precisa tornar-se o pensamento<br />

ou a intenção que ele nos significa. É ele que mostra,<br />

ele que fala, eis o que aprendemos neste capítulo. Cézanne<br />

dizia de um retrato: "Se pinto todos os pequenos azuis<br />

e todos os pequenos marrons, eu o faço olhar como ele olha...<br />

Ao diabo se eles desconfiam como, casando um verde mati-

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