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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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488 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

gegenwàrtingung)' e me lança fora de mim. O idealismo, fazendo<br />

o exterior imanente a mim, o realismo, submetendo-me a uma<br />

ação causai, falsificam as relações de motivação que existem<br />

entre o exterior e o interior e tornam esta relação incompreensível.<br />

Nosso passado individual, por exemplo, não nos pode<br />

ser <strong>da</strong>do nem pela sobrevivência efetiva dos estados de consciência<br />

ou dos traços cerebrais, nem por uma consciência do<br />

passado que o constituiria e o atingiria imediatamente: nos<br />

dois casos faltar-nos-ia o sentido do passado porque, propriamente<br />

falando, o passado ser-nos-ia presente. Se deve haver<br />

um passado para nós, só pode ser em uma presença ambígua,<br />

antes de qualquer evocação expressa, como um campo<br />

para o qual temos abertura. É preciso que ele exista para nós<br />

mesmo quando não pensamos nele, e que to<strong>da</strong>s as nossas evocações<br />

sejam extraí<strong>da</strong>s dessa massa opaca. Da mesma maneira,<br />

se eu só tivesse o mundo como uma soma de coisas<br />

e a coisa como uma soma de proprie<strong>da</strong>des, eu não teria certezas,<br />

mas apenas probabili<strong>da</strong>des, nenhuma reali<strong>da</strong>de irrecusável,<br />

mas somente ver<strong>da</strong>des condiciona<strong>da</strong>s. Se o passado<br />

e o mundo existem, é preciso que eles tenham uma imanência<br />

de princípio — eles só podem ser aquilo que vejo atrás<br />

de mim e em torno de mim — e uma transcendência de fato<br />

— eles existem em minha vi<strong>da</strong> antes de aparecerem como objetos<br />

de meus atos expressos. Da mesma maneira ain<strong>da</strong>, meu<br />

nascimento e minha morte não podem ser para mim objetos<br />

de pensamento. Instalado na vi<strong>da</strong>, apoiado em minha natureza<br />

pensante, fixado neste campo transcendental que se abriu<br />

desde a minha primeira percepção e no qual to<strong>da</strong> ausência<br />

é apenas o avesso de uma presença, todo silêncio é apenas<br />

uma mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de do ser sonoro, tenho uma espécie de ubiqüi<strong>da</strong>de<br />

e de eterni<strong>da</strong>de de princípio, sinto-me dedicado a um<br />

fluxo de vi<strong>da</strong> inesgotável do qual não posso pensar nem o começo<br />

nem o fim, já que sou ain<strong>da</strong> eu enquanto vivo quem<br />

os pensa, e já que assim minha vi<strong>da</strong> sempre precede e sobre-

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