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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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374 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

qüentemente se diz que, no movimento dos olhos, os objetos<br />

permanecem imóveis para nós porque levamos em conta o<br />

deslocamento do olho e porque, encontrando-o exatamente<br />

proporcional à mu<strong>da</strong>nça <strong>da</strong>s aparências, concluímos pela imobili<strong>da</strong>de<br />

dos objetos. De fato, se não temos consciência do deslocamento<br />

do olho, como no movimento passivo, o objeto parece<br />

mover-se; se, como na paresia dos músculos óculomotores,<br />

temos a ilusão de um movimento do olho sem que<br />

a relação dos objetos ao nosso olho pareça mu<strong>da</strong>r, acreditamos<br />

ver um movimento do objeto. Primeiramente parece que<br />

a relação do objeto ao nosso olho, tal como ela se inscreve<br />

na retina, sendo <strong>da</strong><strong>da</strong> à consciência, nós obteríamos por subtração<br />

o repouso ou o grau de movimento dos objetos, fazendo<br />

entrar em consideração o deslocamento ou o respouso de<br />

nosso olho. Na reali<strong>da</strong>de, essa análise é inteiramente artificial<br />

e própria para esconder-nos a ver<strong>da</strong>deira relação do corpo<br />

ao espetáculo. Quando transporto meu olhar de um objeto<br />

a outro, não tenho nenhuma consciência de meu olho enquanto<br />

objeto, enquanto globo suspenso na órbita, de seu deslocamento<br />

ou de seu repouso no espaço objetivo, nem do que<br />

resulta disso na retina. Os elementos do suposto cálculo não<br />

me são <strong>da</strong>dos. A imobili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> coisa não é deduzi<strong>da</strong> do ato<br />

do olhar, ela é rigorosamente simultânea; os dois fenômenos<br />

envolvem-se um ao outro: eles não são dois elementos de uma<br />

soma algébrica, mas dois momentos de uma organização que<br />

os engloba. Para mim, meu olho é uma certa potência de alcançar<br />

as coisas, não uma tela onde elas se projetam. A relação<br />

entre meu olho e o objeto não me é <strong>da</strong><strong>da</strong> sob a forma<br />

de uma projeção geométrica do objeto no olho, mas como um<br />

certo poder de meu olho sobre o objeto, ain<strong>da</strong> vago na visão<br />

marginal, mais rigoroso e mais preciso quando fixo o objeto.<br />

O que me falta no movimento passivo do olho não é a representação<br />

objetiva de seu deslocamento na órbita, que em caso<br />

algum me é <strong>da</strong><strong>da</strong>, é a engrenagem precisa de meu olhar

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