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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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PREFÁCIO 17<br />

ção. Eu acreditava ter-me calado por fadiga, tal ministro acreditava<br />

só ter dito uma frase de circunstância, e eis que meu<br />

silêncio ou sua fala adquirem um sentido, porque minha fadiga<br />

ou o recurso a uma frase feita não são fortuitos, eles exprimem<br />

certo desinteresse e, portanto, certa toma<strong>da</strong> de posição<br />

em relação à situação. Em um acontecimento considerado<br />

de perto, no momento em que é vivido, tudo parece caminhar<br />

ao acaso: a ambição deste, tal encontro favorável, tal<br />

circunstância local parecem ter sido decisivos. Mas os acasos Ç<<br />

se compensam e eis que essa poeira de fatos se aglomera, de- t;<br />

senha certa maneira de tomar posição a respeito <strong>da</strong> situação,^ i:.<br />

humana, desenha um acontecimento cujos contornos são defi-o -:<br />

nidos e do qual se pode falar. Deve-se compreender a histó-" i<br />

ria a partir <strong>da</strong> ideologia, ou a partir <strong>da</strong> política, ou a partir s<br />

<strong>da</strong> religião, ou então a partir <strong>da</strong> economia? Deve-se compreen- í ; -<br />

der uma doutrina por seu conteúdo manifesto ou pela psico- l<br />

logia do autor e pelos acontecimentos de sua vi<strong>da</strong>? Deve-se c v\<br />

compreender de to<strong>da</strong>s as maneiras ao mesmo tempo, tudo ^ ,<br />

tem um sentido, nós reencontramos sob todos os aspectos a ' •<br />

mesma estrutura de ser. To<strong>da</strong>s essas visões são ver<strong>da</strong>deiras, }<br />

sob a condição de que não as isolemos, de que caminhemos<br />

até o fundo <strong>da</strong> história e encontremos o núcleo único de significação<br />

existencial que se explicita em ca<strong>da</strong> perspectiva. É<br />

ver<strong>da</strong>de, como diz Marx, que a história não an<strong>da</strong> com a cabeça,<br />

mas também é ver<strong>da</strong>de que ela não pensa com os pés.<br />

Ou, antes, nós não devemos ocupar-nos nem de sua "cabeça",<br />

nem de seus "pés", mas de seu corpo. To<strong>da</strong>s as explicações<br />

econômicas, psicológicas de uma doutrina são ver<strong>da</strong>deiras,<br />

já que o pensador pensa sempre a partir <strong>da</strong>quilo que<br />

ele é. A própria reflexão sobre uma doutrina só será total se<br />

ela conseguir fazer sua junção com a história <strong>da</strong> doutrina e<br />

com as explicações externas, e se conseguir recolocar as causas<br />

e o sentido <strong>da</strong> doutrina em uma estrutura de existência.<br />

Existe, como diz Husserl, uma "gênese do sentido" (Sinnge-

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