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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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302 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

tos distantes, e em todo caso pode-se construir pouco a pouco,<br />

com simultanei<strong>da</strong>des a curta distância, uma simultanei<strong>da</strong>de<br />

a grande distância. Mas, para a experiência, a espessura<br />

de tempo que assim se introduz na operação modifica seu<br />

resultado, resulta <strong>da</strong>í um certo "movido" na simultanei<strong>da</strong>de<br />

dos pontos extremos e, nessa medi<strong>da</strong>, para o cego operado<br />

a amplitude <strong>da</strong>s perspectivas visuais será uma ver<strong>da</strong>deira<br />

revelação, porque ela proporcionará pela primeira vez a exibição<br />

<strong>da</strong> simultanei<strong>da</strong>de distante ela mesma. Os operados declaram<br />

que os objetos táteis não são ver<strong>da</strong>deiros todos espaciais,<br />

que aqui a apreensão do objeto é um simples "saber<br />

<strong>da</strong> relação recíproca <strong>da</strong>s partes", que o círculo e o quadrado<br />

não são ver<strong>da</strong>deiramente percebidos pelo tato, mas reconhecidos<br />

a partir de certos "signos" — presença ou ausência de<br />

"pontas" 26 . Enten<strong>da</strong>mos que o campo tátil nunca tem a amplitude<br />

do campo visual, nunca o objeto tátil está presente<br />

por inteiro em ca<strong>da</strong> uma de suas partes assim como o objeto<br />

visual, e em suma que tocar não é ver. Sem dúvi<strong>da</strong>, entre<br />

o cego e o normal, a conversação se estabelece, e talvez seja<br />

impossível encontrar uma só palavra, mesmo no vocabulário<br />

<strong>da</strong>s cores, à qual o cego não consiga <strong>da</strong>r um sentido pelo menos<br />

esquemático. Um cego de doze anos define muito bem<br />

as dimensões <strong>da</strong> visão: "Aqueles que vêem", diz ele, "estão<br />

em relação comigo por um sentido desconhecido que à distância<br />

me envolve inteiramente, me segue, me atravessa e que,<br />

desde que me levanto até me deitar, me mantém, por assim<br />

dizer, sob sua dominação" (mich gewissermassen beherrscht) 27 .<br />

Mas para o cego essas indicações permanecem nocionais e<br />

problemáticas. Elas colocam uma questão à qual apenas a visão<br />

poderia responder. E é por isso que o cego operado acha<br />

o mundo diferente <strong>da</strong>quilo que ele esperava 28 , assim como<br />

nós sempre achamos um homem diferente <strong>da</strong>quilo que sabíamos<br />

dele. O mundo do cego e o do normal diferem não apenas<br />

pela quanti<strong>da</strong>de dos materiais dos quais eles dispõem, mas

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