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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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O MUNDO PERCEBIDO 375<br />

aos objetos, na falta <strong>da</strong> qual os objetos não são mais capazes<br />

de fixidez nem tampouco de movimentos ver<strong>da</strong>deiros: pois,<br />

quando pressiono meu globo ocular, não percebo um movimento<br />

ver<strong>da</strong>deiro, não são as próprias coisas que se deslocam,<br />

é apenas uma fina película em sua superfície. Enfim,<br />

na paresia dos óculo-motores eu não explico a constância <strong>da</strong><br />

imagem retiniana por um movimento do objeto, mas sinto<br />

que o poder de meu olhar sobre o objeto não se afrouxa, meu<br />

olhar o leva consigo e o desloca consigo. Assim, na percepção,<br />

meu olho nunca é um objeto. Se alguma vez se pode falar<br />

de movimento sem móbil, é exatamente no caso do corpo<br />

próprio. O movimento de meu olho em direção àquilo que<br />

ele vai fixar não é o deslocamento de um objeto em relação<br />

a um outro objeto, é uma marcha ao real. Meu olho está em<br />

movimento ou em repouso em relação a uma coisa <strong>da</strong> qual<br />

ele se aproxima ou que se distancia dele. Se o corpo fornece<br />

à percepção do movimento o solo ou o fundo do qual ela precisa<br />

para estabelecer-se, é enquanto potência que percebe, enquanto<br />

ele está estabelecido em um certo domínio e engrenado<br />

a um mundo. Repouso e movimento aparecem entre um<br />

objeto que por si não está determinado segundo o repouso<br />

e o movimento e meu corpo que, enquanto objeto, também<br />

não o está, quando meu corpo se ancora em certos objetos.<br />

Assim como o alto e o baixo, o movimento é um fenômeno<br />

de nível, todo movimento supõe uma certa ancoragem que<br />

pode variar. Eis o que se quer dizer de válido quando se fala<br />

confusamente <strong>da</strong> relativi<strong>da</strong>de do movimento. Ora, o que é<br />

exatamente a ancoragem e como ela constitui um fundo em<br />

repouso? Ela não é uma percepção explícita. Os pontos de<br />

ancoragem, quando nos fixamos neles, não são objetos. O<br />

campanário só se põe em movimento quando deixo o céu em<br />

visão marginal. É essencial aos pretensos referenciais do movimento<br />

não serem postos em um conhecimento atual e estarem<br />

sempre "já ali". Eles não se oferecem de frente à per-

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