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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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610 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

elas provenham do interior. Mas justamente nós aprendemos<br />

a reconhecer a ordem dos fenômenos. Estamos misturados<br />

ao mundo e aos outros em uma confusão inextricável. A idéia<br />

de situação exclui a liber<strong>da</strong>de absoluta na origem de nossos<br />

envolvimentos. Aliás, ela a exclui igualmente em seu termo.<br />

Nenhum envolvimento, e nem mesmo o envolvimento no Estado<br />

hegeliano, pode fazer-me ultrapassar to<strong>da</strong>s as diferenças<br />

e tornar-me livre para tudo. Esta própria universali<strong>da</strong>de,<br />

unicamente pelo fato de que ela seria vivi<strong>da</strong>, se destacaria<br />

como uma particulari<strong>da</strong>de sobre o fundo do mundo, a existência<br />

ao mesmo tempo generaliza e particulariza tudo aquilo<br />

que visa e não poderia ser integral.<br />

A síntese do Em si e do Para si que liber<strong>da</strong>de hegeliana<br />

realiza tem to<strong>da</strong>via sua ver<strong>da</strong>de. Em certo sentido, esta é a<br />

própria definição <strong>da</strong> existência, a ca<strong>da</strong> momento ela se faz<br />

sob nosso olhos no fenômeno de presença, simplesmente ela<br />

logo deve ser recomeça<strong>da</strong> e não suprime nossa finitude. Assumindo<br />

um presente, retomo e transformo meu passado, mudo<br />

seu sentido, libero-me dele, desembaraço-me dele. Mas<br />

só o faço envolvendo-me alhures. O tratamento psicanalítico<br />

não cura provocando uma toma<strong>da</strong> de consciência do passado,<br />

mas em primeiro lugar ligando o paciente ao seu médico<br />

por novas relações de existência. Não se trata de <strong>da</strong>r um assentimento<br />

científico à interpretação psicanalítica e de descobrir<br />

um sentido nocional do passado, trata-se de re-vivê-lo<br />

como significando isto ou aquilo, e o doente só chega a isso<br />

vendo seu passado na perspectiva de sua coexistência com o<br />

médico. O complexo não é dissolvido por uma liber<strong>da</strong>de sem<br />

instrumentos, mas antes deslocado por uma nova pulsação<br />

do tempo que tem seus apoios e seus motivos. Ocorre o mesmo<br />

em to<strong>da</strong>s as toma<strong>da</strong>s de consciência: elas só são efetivas<br />

se produzi<strong>da</strong>s por um novo envolvimento. Ora, este envolvimento,<br />

por sua vez, se faz no implícito, portanto ele só é válido<br />

para um ciclo de tempo. A escolha que fazemos de nossa

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