12.04.2013 Views

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

OS PREJUÍZOS CLÁSSICOS E O RETORNO AOS FENÔMENOS 97<br />

ca encontra a questão: quem medita? Se, ao contrário, a filosofia<br />

contemporânea toma o fato como tema principal, e se para<br />

ela o outro torna-se um problema, é porque quer efetuar<br />

uma toma<strong>da</strong> de consciência mais radical. A reflexão não pode<br />

ser plena, não pode ser um esclarecimento total de seu objeto<br />

se não toma consciência de si mesma ao mesmo tempo<br />

que de seus resultados. Precisamos não apenas instalar-nos<br />

em uma atitude reflexiva, em um Cogito inatacável, mas ain<strong>da</strong><br />

refletir nessa reflexão, compreender a situação natural à<br />

qual ela tem consciência de suceder e que portanto faz parte<br />

de sua definição, não apenas praticar a filosofia mas ain<strong>da</strong><br />

<strong>da</strong>r-nos conta <strong>da</strong> transformação que ela traz consigo no espetáculo<br />

do mundo e em nossa existência. Apenas sob essa condição<br />

o saber filosófico pode tornar-se um saber absoluto e<br />

deixar de ser uma especiali<strong>da</strong>de ou uma técnica. Assim, não<br />

mais afirmaremos uma Uni<strong>da</strong>de absoluta, tanto menos duvidosa<br />

já que ela não precisa realizar-se no Ser, o centro <strong>da</strong><br />

filosofia não é mais uma subjetivi<strong>da</strong>de transcendental autônoma,<br />

situa<strong>da</strong> em to<strong>da</strong>s as partes e em parte alguma, ele se<br />

encontra no começo perpétuo <strong>da</strong> reflexão, neste ponto em que<br />

uma vi<strong>da</strong> individual se põe a refletir em si mesma. A reflexão<br />

só é ver<strong>da</strong>deiramente reflexão se não se arrebata para fora<br />

de si mesma, se se conhece como reflexão-sobre-um-irrefletido<br />

e, por conseguinte, como uma mu<strong>da</strong>nça de estrutura<br />

de nossa existência. Censurávamos acima a intuição bergsoniana<br />

e a introspecção por procurarem um saber por coincidência.<br />

Mas na outra extremi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> filosofia, na noção de<br />

uma consciência constituinte universal, encontramos um erro<br />

simétrico. O erro de Bergson é acreditar que o sujeito meditante<br />

possa fundir-se ao objeto sobre o qual ele medita, o<br />

saber se dilatar confundindo-se com o ser; o erro <strong>da</strong>s filosofias<br />

reflexivas é acreditar que o sujeito meditante possa absorver<br />

em sua meditação, ou apreender sem sobras, o objeto<br />

sobre o qual medita, nosso ser se reduzir a nosso saber. Nun-

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!