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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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O CORPO 125<br />

me manter em vi<strong>da</strong>, em torno do mundo humano que ca<strong>da</strong><br />

um de nós se faz, aparece um mundo em geral ao qual é preciso<br />

pertencer em primeiro lugar para poder encerrar-se no<br />

ambiente particular de um amor ou de uma ambição. Assim<br />

como se fala de um recalque no sentido estrito quando, através<br />

do tempo, mantenho um dos mundos momentâneos pelos<br />

quais passei e faço dele a forma de to<strong>da</strong> a minha vi<strong>da</strong> —<br />

<strong>da</strong> mesma maneira pode-se dizer que meu organismo, como<br />

adesão pré-pessoal à forma geral do mundo, como existência<br />

anônima e geral, desempenha, abaixo de minha vi<strong>da</strong> pessoal,<br />

o papel de um complexo inato. Ele não existe como uma coisa<br />

inerte, mas esboça, ele também, o movimento <strong>da</strong> existência.<br />

Pode mesmo ocorrer que, no perigo, minha situação humana<br />

apague minha situação biológica, que meu corpo se lance<br />

sem reservas à ação 20 . Mas esses momentos só podem ser<br />

momentos 21 e a maior parte do tempo a existência pessoal<br />

recalca o organismo, sem poder nem ir adiante nem renunciar<br />

a si mesma — nem reduzi-lo a ela nem reduzir-se a ele.<br />

Enquanto estou abatido por um luto e entregue ao meu sofrimento,<br />

meus olhares já erram diante de mim, interessamse<br />

sorrateiramente por algum objeto brilhante, recomeçam<br />

sua existência autônoma. Depois deste minuto no qual queríamos<br />

encerrar to<strong>da</strong> a nossa vi<strong>da</strong>, o tempo, pelo menos o<br />

tempo pré-pessoal, recomeça a se escoar e arrebata, senão nossa<br />

resolução, pelo menos os sentimentos calorosos que a sustentavam.<br />

A existência pessoal é intermitente, e, quando essa<br />

maré reflui, a decisão só pode <strong>da</strong>r à minha vi<strong>da</strong> uma significação<br />

força<strong>da</strong>. A fusão entre a alma e o corpo no ato, a<br />

sublimação <strong>da</strong> existência biológica em existência pessoal, do<br />

mundo natural em mundo cultural, é torna<strong>da</strong> ao mesmo tempo<br />

possível e precária pela estrutura temporal de nossa experiência.<br />

Ca<strong>da</strong> presente, através de seu horizonte de passado<br />

imediato e de futuro próximo, apreende pouco a pouco a totali<strong>da</strong>de<br />

do tempo possível; ele supera assim a dispersão dos

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