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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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544 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

terpostos, mas em alguém que vive o mesmo mundo que eu,<br />

a mesma história que eu, e com quem eu me comunico através<br />

desse mundo e através dessa história. Diremos então que<br />

se trata ali de uma uni<strong>da</strong>de ideal, que meu mundo é o mesmo<br />

que o de Paulo como a equação de segundo grau <strong>da</strong> qual<br />

se fala em Tóquio é a mesma de que se fala em Paris, e que<br />

enfim a ideali<strong>da</strong>de do mundo assegura seu valor intersubjetivo?<br />

Mas a uni<strong>da</strong>de ideal também não nos satisfaz, pois ela<br />

existe igualmente entre o Hymette visto pelos gregos e o<br />

Hymette visto por mim. Ora, considerando esses declives arruivados,<br />

por mais que eu me diga que os Gregos os viram<br />

não chego a me convencer de que eles sejam os mesmos. Ao<br />

contrário, Paulo e eu vemos "juntos" a paisagem, estamos<br />

co-presentes a ela, ela é a mesma para nós dois, não apenas<br />

enquanto significação inteligível, mas como um certo acento<br />

do estilo mundial, e até em sua eccei<strong>da</strong>de. A uni<strong>da</strong>de do mundo<br />

se degra<strong>da</strong> e se pulveriza com a distância temporal e espacial<br />

que a uni<strong>da</strong>de ideal atravessa (em princípio) sem nenhuma<br />

per<strong>da</strong>. É justamente porque a paisagem me toca e me afeta,<br />

porque ela me atinge em meu ser mais singular, porque<br />

ela é minha visão <strong>da</strong> paisagem, que tenho a própria paisagem<br />

e que a tenho como paisagem para Paulo tanto quanto<br />

para mim. A universali<strong>da</strong>de e o mundo se encontram no coração<br />

<strong>da</strong> individuali<strong>da</strong>de e do sujeito. Nunca o compreendemos<br />

enquanto fizermos do mundo um ob-jeto. Logo o compreendemos<br />

se o mundo é o campo de nossa experiência, e se<br />

nós somos apenas uma visão do mundo, pois agora a mais<br />

secreta vibração de nosso ser psicofísico já anuncia o mundo,<br />

a quali<strong>da</strong>de é o esboço de uma coisa, e a coisa é o esboço do<br />

mundo. Um mundo que nunca é, como o diz Malebranche,<br />

senão uma "obra inacaba<strong>da</strong>", ou que, segundo a expressão<br />

que Husserl aplica ao corpo, não está "nunca completamente<br />

constituído", não exige e até mesmo exclui um sujeito constituinte.<br />

A esse esboço de ser que transparece nas concordân-

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