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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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220 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

e definível pela causali<strong>da</strong>de própria a um aparelho orgânico,<br />

não há mais nenhum sentido em dizer que a existência inteira<br />

se compreende pela vi<strong>da</strong> sexual, ou antes essa proposição<br />

torna-se uma tautologia. Seria preciso dizer então, inversamente,<br />

que o fenômeno sexual é apenas uma expressão de<br />

nossa maneira geral de projetar nosso ambiente? Mas a vi<strong>da</strong><br />

sexual não é ura simples reflexo <strong>da</strong> existência: uma vi<strong>da</strong> eficaz,<br />

na ordem política e ideológica, por exemplo, pode acompanhar-se<br />

de uma sexuali<strong>da</strong>de deteriora<strong>da</strong>, e ela pode até<br />

mesmo beneficiar-se dessa deterioração. Inversamente, a vi<strong>da</strong><br />

sexual pode ter, em Casanova por exemplo, um tipo de<br />

perfeição técnica que não corresponde a um vigor particular<br />

do ser no mundo. Mesmo se o aparelho sexual é atravessado<br />

pela corrente geral <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, ele pode confiscá-la em seu benefício.<br />

A vi<strong>da</strong> se particulariza em correntes separa<strong>da</strong>s. Ou<br />

as palavras não têm nenhum sentido, ou então a vi<strong>da</strong> sexual<br />

designa um setor de nossa vi<strong>da</strong> que tem relações particulares<br />

com a existência do sexo. Não se trata de diluir a sexuali<strong>da</strong>de<br />

na existência, como se ela fosse apenas um epifenômeno.<br />

Justamente se admitimos que os distúrbios sexuais dos neuróticos<br />

exprimem seu drama fun<strong>da</strong>mental e nos oferecem como<br />

que sua ampliação, resta saber por que a expressão sexual<br />

desse drama é mais precoce, mais freqüente e mais visível<br />

do que as outras; e por que a sexuali<strong>da</strong>de é não apenas<br />

um signo, mas ain<strong>da</strong> um signo privilegiado. Reencontramos<br />

aqui um problema que já encontramos várias vezes. Mostrávamos,<br />

com a teoria <strong>da</strong> Forma, que não se pode determinar<br />

uma cama<strong>da</strong> de <strong>da</strong>dos sensíveis que dependeriam imediatamente<br />

dos órgãos dos sentidos: o menor <strong>da</strong>do sensível só se<br />

apresenta integrado a uma configuração e já "posto em forma".<br />

Isso não impede, dizíamos, que as palavras "ver" e<br />

"ouvir" tenham um sentido. Observávamos alhures 5 que as<br />

regiões especializa<strong>da</strong>s do cérebro, a "zona ótica" por exemplo,<br />

nunca funcionam isola<strong>da</strong>mente. Isso não impede, dizia-

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