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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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386 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

percepção e, por assim dizer, reflui para si mesmo. O esquizofrênico<br />

não vive mais no mundo comum, mas em um mundo<br />

privado, ele não vai mais até o espaço geográfico: ele permanece<br />

no "espaço de paisagem" 72 e esta própria paisagem,<br />

uma vez corta<strong>da</strong> do mundo comum, está consideravelmente<br />

empobreci<strong>da</strong>. Daí a interrogação esquizofrênica: tudo é espantoso,<br />

absurdo ou irreal, porque o movimento <strong>da</strong> existência<br />

em direção às coisas não tem mais sua energia, porque<br />

ele se manifesta em sua contingência e porque o mundo não<br />

é mais óbvio. Se o espaço natural do qual fala a psicologia<br />

clássica é, ao contrário, tranqüilizador e evidente, é porque<br />

a existência se precipita e se ignora nele.<br />

A descrição do espaço antropológico poderia ser indefini<strong>da</strong>mente<br />

prossegui<strong>da</strong> 73 . Vê-se o que o pensamento objetivo<br />

sempre lhe oporá: as descrições teriam valor filosófico?<br />

Quer dizer: elas nos ensinam algo que diga respeito à própria<br />

estrutura <strong>da</strong> consciência, ou só nos dão conteúdos <strong>da</strong> experiência<br />

humana? O espaço do sonho, o espaço mítico, o<br />

espaço esquizofrênico, eles são espaços ver<strong>da</strong>deiros, podem<br />

ser e ser pensados por si mesmos, ou pressupõem, como condição<br />

de sua possibili<strong>da</strong>de, o espaço geométrico e, com ele,<br />

a pura consciência constituinte que o desdobra? A esquer<strong>da</strong>,<br />

região do infortúnio e presságio nefasto para o primitivo —<br />

ou, em meu corpo, a esquer<strong>da</strong> como lado de minha inabili<strong>da</strong>de<br />

—, só se determina como direção se, primeiramente,<br />

sou capaz de pensar sua relação com a direita, e é essa relação<br />

que finalmente dá um sentido espacial aos termos entre<br />

os quais ela se estabelece. Não é, por assim dizer, com sua<br />

angústia ou com sua alegria que o primitivo visa um espaço,<br />

como não é com minha dor que sei onde está meu pé ferido:<br />

a angústia, a alegria, a dor vivi<strong>da</strong>s são reporta<strong>da</strong>s a um lugar<br />

do espaço objetivo onde se encontram suas condições empíricas.<br />

Sem essa consciência ágil, livre em relação a todos os<br />

conteúdos e que os desdobra no espaço, os conteúdos nunca

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