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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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474 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

pies fragmento do mundo, mas o lugar de uma certa elaboração<br />

e como que de uma certa "visão" do mundo. Ali se<br />

faz um certo tratamento <strong>da</strong>s coisas até então minhas. Alguém<br />

se serve de meus objetos familiares. Mas quem? Digo que ele<br />

é um outro, um segundo eu mesmo e o sei em primeiro lugar<br />

porque este corpo vivo tem a mesma estrutura que o meu.<br />

Sinto meu corpo como potência de certas condutas e de um<br />

certo mundo, sou <strong>da</strong>do a mim mesmo como um certo poder<br />

sobre o mundo; ora, é justamente meu corpo que percebe o<br />

corpo de outrem, e ele encontra ali como que um prolongamento<br />

miraculoso de suas próprias intenções, uma maneira<br />

familiar de tratar o mundo; doravante, como as partes de meu<br />

corpo em conjunto formam um sistema, o corpo de outrem<br />

e o meu são um único todo, o verso e o reverso de um único<br />

fenômeno, e a existência anônima <strong>da</strong> qual meu corpo é a ca<strong>da</strong><br />

momento o rastro habita doravante estes dois corpos ao<br />

mesmo tempo 3 . Isso só representa um outro ser vivo e não<br />

ain<strong>da</strong> um outro homem. Mas esta vi<strong>da</strong> estranha é uma vi<strong>da</strong><br />

aberta, assim como a minha com a qual ela se comunica. Ela<br />

não se esgota em um certo número de funções biológicas ou<br />

sensoriais. Ela anexa a si objetos naturais desviando-os de seu<br />

sentido imediato, ela constrói-se utensílios, instrumentos, ela<br />

se projeta no ambiente em objetos culturais. Ao nascer, a<br />

criança os encontra em torno de si como aerolitos vindos de<br />

um outro planeta. Ela se apossa deles, aprende a servir-se deles<br />

como os outros se servem, porque o esquema corporal assegura<br />

a correspondência imediata entre aquilo que ela vê fa-zer<br />

e aquilo que ela faz, e porque através disso o utensílio<br />

se precisa como um manipulandum determinado, e outrem como<br />

um centro de ação humana. Em particular, existe um objeto<br />

cultural que vai desempenhar um papel essencial na percepção<br />

de outrem: é a linguagem. Na experiência do diálogo,<br />

constitui-se um terreno comum entre outrem e mim, meu<br />

pensamento e o seu formam um só tecido, meus ditos e aqueles

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