12.04.2013 Views

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

152 FEN0MEN0L0G1A DA PERCEPÇÃO<br />

jeito normal, quando executa sob comando a sau<strong>da</strong>ção militar,<br />

só vê nisso uma situação de experiência; ele reduz então<br />

o movimento aos seus elementos mais significativos e não se<br />

coloca ali inteiro 14 . Ele representa com seu próprio corpo,<br />

diverte-se em encenar o sol<strong>da</strong>do, ele se "irrealiza" no papel<br />

do sol<strong>da</strong>do 15 como o ator introduz seu corpo real no "grande<br />

fantasma" 16 do personagem a representar. O homem normal<br />

e o ator não tomam por reais as situações imaginárias,<br />

mas, inversamente, destacam seu corpo real de sua situação<br />

vital para fazê-lo respirar, falar e, se necessário, chorar no<br />

imaginário. É isso que nosso doente não pode mais fazer. Na<br />

vi<strong>da</strong>, diz ele, "sinto os movimentos como um resultado <strong>da</strong><br />

situação, do encadeamento dos próprios acontecimentos; eu<br />

e meus movimentos só somos, por assim dizer, um elo no desenrolar<br />

do conjunto, e mal tenho consciência <strong>da</strong> iniciativa<br />

voluntária (...) Tudo caminha por si só". Da mesma maneira,<br />

para executar um movimento sob comando, ele se coloca<br />

"na situação afetiva de conjunto, e é dela que o movimento<br />

fluí, como na vi<strong>da</strong>" 17 . Se interrompem sua manobra e o trazem<br />

de volta à situação de experiência, to<strong>da</strong> a sua destreza<br />

desaparece. Novamente a iniciação cinética torna-se impossível,<br />

o doente deve primeiramente "encontrar" seu braço,<br />

"encontrar" o gesto pedido por movimentos preparatórios,<br />

o próprio gesto perde o caráter melódico que apresenta na<br />

vi<strong>da</strong> usual e torna-se visivelmente uma soma de movimentos<br />

parciais laboriosamente postos lado a lado. Portanto, por meio<br />

de meu corpo enquanto potência de um certo número de ações<br />

familiares, posso instalar-me em meu meio circun<strong>da</strong>nte enquanto<br />

conjunto de manipulando,, sem visar meu corpo nem<br />

meu meio circun<strong>da</strong>nte como objetos no sentido kantiano, quer<br />

dizer, como sistemas de quali<strong>da</strong>des liga<strong>da</strong>s por uma lei inteligível,<br />

como enti<strong>da</strong>des transparentes, livres de qualquer aderência<br />

local ou temporal e prontas para a denominação ou,<br />

pelo menos, para um gesto de designação. Há meu braço co-

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!