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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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424 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

a areia ou o mel como tantas leis ou regras do desenrolar <strong>da</strong><br />

experiência tátil, novamente nos seria preciso colocar nesta<br />

o saber dos elementos que a lei coordena. Aquele que toca<br />

e que reconhece o rugoso ou o liso não põe seus elementos<br />

nem as relações entre esses elementos, não os pensa de um<br />

lado a outro. Quem toca e apalpa não é a consciência, é a<br />

mão, e a mão é, como diz Kant, um "cérebro exterior do<br />

homem" 44 . Na experiência visual, que leva a objetivação<br />

mais longe do que a experiência tátil, podemos, à primeira<br />

vista, gabar-nos de constituir o mundo, porque ela nos apresenta<br />

um espetáculo exposto à distância diante de nós, nos<br />

dá a ilusão de estarmos imediatamente presentes a to<strong>da</strong>s as<br />

partes e de não estarmos situados em parte alguma. Mas a<br />

experiência tátil adere à superfície de nosso corpo, não podemos<br />

desdobrá-la diante de nós, ela não se torna inteiramente<br />

objeto. Correlativamente, enquanto sujeito do tato, não posso<br />

gabar-me de estar em to<strong>da</strong>s as partes e em parte alguma,<br />

aqui não posso esquecer que é através de meu corpo que vou<br />

ao mundo, a experiência tátil se faz "adiante" de mim e não<br />

é centra<strong>da</strong> em mim. Não sou eu que toco, é meu corpo; quando<br />

toco, não penso um diverso, minhas mãos encontram um<br />

certo estilo que faz parte de suas possibili<strong>da</strong>des motoras, e<br />

é isso que se quer dizer quando se fala de um campo perceptivo:<br />

só posso tocar eficazmente se o fenômeno encontra ura<br />

eco em mim, se ele concor<strong>da</strong> com uma certa natureza de minha<br />

consciência, se o órgão que vem ao seu encontro está sincronizado<br />

com ele. A uni<strong>da</strong>de e a identi<strong>da</strong>de do fenômeno<br />

tátil não se realizam por uma síntese de recognição no conceito,<br />

elas estão fun<strong>da</strong><strong>da</strong>s na uni<strong>da</strong>de e na identi<strong>da</strong>de do corpo<br />

enquanto conjunto sinérgico. "A partir do dia em que a<br />

criança se serve de sua mão como de um instrumento único<br />

de preensão, ela se torna também um instrumento único do<br />

tato." 45 Não apenas me sirvo de meus dedos e de meu corpo<br />

inteiro como de um só órgão, mas ain<strong>da</strong>, graças a essa

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