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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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O MUNDO PERCEBIDO 453<br />

Engano-me sobre outrem porque o vejo de meu ponto de vista,<br />

mas eu o entendo quando protesta e enfim tenho a idéia<br />

de outrem como de um centro de perspectivas. No interior<br />

de minha própria situação me aparece a situação do doente<br />

que interrogo e, neste fenômeno com dois pólos, aprendo a<br />

me conhecer tanto quanto a conhecer a outrem. É preciso<br />

recolocar-nos na situação efetiva em que as alucinações e o<br />

"real" se oferecem a nós, e apreender sua diferenciação concreta<br />

no momento em que ela se opera na comunicação com<br />

o doente. Estou sentado diante de meu paciente e converso<br />

com ele, ele tenta descrever-me aquilo que "vê" e aquilo que<br />

"ouve"; não se trata nem de acreditar no que ele diz, nem<br />

de reduzir suas experiências às minhas, nem de coincidir com<br />

ele, nem de ater-me ao meu ponto de vista, mas de explicitar<br />

minha experiência e sua experiência tal como ela se indica<br />

na minha, sua crença alucinatória e minha crença real; tratase<br />

de compreender uma pela outra.<br />

Se classifico entre as alucinações as vozes e as visões de<br />

meu interlocutor, é porque não encontro na<strong>da</strong> de semelhante<br />

em meu mundo visual ou auditivo. Portanto, tenho consciência<br />

de apreender pela audição e sobretudo pela visão um<br />

sistema de fenômenos que não constitui apenas um espetáculo<br />

privado, mas que é o único possível para mim e mesmo<br />

para outrem, e é isso que denominamos o real. O mundo percebido<br />

não é apenas meu mundo, é nele que vejo desenhar-se<br />

as condutas de outrem, elas também o visam e ele é o correlativo,<br />

não somente de minha consciência, mas ain<strong>da</strong> de to<strong>da</strong><br />

consciência que eu possa encontrar. O que vejo com meus próprios<br />

olhos esgota para mim as possibili<strong>da</strong>des <strong>da</strong> visão. Sem<br />

dúvi<strong>da</strong>, só o vejo sob um certo ângulo e admito que um espectador<br />

situado de outra maneira perceba aquilo que eu apenas<br />

adivinho. Mas esses outros espetáculos estão atualmente<br />

implicados no meu, assim como o verso ou a parte inferior<br />

dos objetos são percebidos ao mesmo tempo em que sua face

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