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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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538 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

Para a criança, a "história" e o expresso não são "idéias"<br />

ou "significações", a fala e a leitura não são "operações intelectuais".<br />

A história é um mundo que se deve poder fazer<br />

aparecer magicamente, pondo óculos e debruçando-se sobre<br />

um livro. A potência que a linguagem tem de fazer existir<br />

o expresso, de abrir caminhos, novas dimensões, novas paisagens<br />

para o pensamento é, em última análise, tão obscura<br />

para o adulto quanto para a criança. Em to<strong>da</strong> obra bemsucedi<strong>da</strong>,<br />

o sentido introduzido no espírito do leitor excede<br />

a linguagem e o pensamento já constituídos e se exibe magicamente<br />

durante a encantação lingüística, assim como a história<br />

saía do livro <strong>da</strong> avó. Se acreditamos comunicar-nos diretamente<br />

pelo pensamento com um universo de ver<strong>da</strong>de e<br />

nele encontrar os outros, nos parece que o texto de Descartes<br />

vem apenas despertar em nós pensamentos já formados e que<br />

nós nunca aprendemos na<strong>da</strong> do exterior, e enfim se um filósofo,<br />

em uma meditação que devia ser radical, nem mesmo<br />

menciona a linguagem como condição do Cogito lido e não nos<br />

convi<strong>da</strong> mais claramente a passar <strong>da</strong> idéia à prática do Cogito,<br />

é porque para nós a operação expressiva é sem problemas<br />

e porque ela conta entre nossas aquisições. O Cogito que nós<br />

obtemos lendo Descartes (e mesmo aquele que Descartes efetua<br />

em vista <strong>da</strong> expressão e quando, voltando-se para sua própria<br />

vi<strong>da</strong>, ele a fixa, a objetiva e a "caracteriza" como indubitável)<br />

é portanto um Cogito falado, posto em palavras, compreendido<br />

nas palavras e que, exatamente por essa razão, não<br />

alcança sua meta, já que uma parte de nossa existência, aquela<br />

que está ocupa<strong>da</strong> em fixar conceptualmente nossa vi<strong>da</strong> e em<br />

pensá-la como indubitável, escapa à fixação e ao pensamento.<br />

Concluiremos <strong>da</strong>qui que a linguagem nos envolve, que<br />

somos conduzidos por ela assim como o realista crê ser determinado<br />

pelo mundo exterior ou o teólogo crê ser conduzido<br />

pela Providência? Isso seria esquecer a metade <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de.<br />

Pois enfim as palavras, e por exemplo a palavra "Cogito",

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