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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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470 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

em si mesma, com os campos sensoriais e com o mundo como<br />

campo de todos os campos, a opaci<strong>da</strong>de de um passado<br />

originário. Se experimento esta inerência de minha consciência<br />

ao seu corpo e ao seu mundo, a percepção de outrem e<br />

a plurali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s consciências não oferecem mais dificul<strong>da</strong>de.<br />

Se, para mim que reflito na percepção, o sujeito que percebe<br />

aparece provido de uma montagem primordial em relação<br />

ao mundo, arrastando atrás de si esta coisa corporal sem<br />

a qual para ele não haveria outras coisas, por que os outros<br />

corpos que percebo não seriam, reciprocamente, habitados<br />

por consciências? Se minha consciência tem um corpo, por<br />

que os outros corpos não "teriam" consciências? Evidentemente,<br />

isso supõe que a noção do corpo e a noção <strong>da</strong> consciência<br />

sejam profun<strong>da</strong>mente transforma<strong>da</strong>s. No que diz respeito<br />

ao corpo, e mesmo ao corpo de outrem, precisamos<br />

aprender a distingui-lo do corpo objetivo, tal como os livros<br />

de fisiologia o descrevem. Não é este corpo que pode ser habitado<br />

por uma consciência. Precisamos recuperar, nos corpos<br />

visíveis, os comportamentos que neles se esboçam, que<br />

fazem ali a sua aparição, mas que não estão realmente contidos<br />

neles 2 . Nunca se fará compreender como a significação<br />

e a intencionali<strong>da</strong>de poderiam habitar edifícios de moléculas<br />

ou aglomerados de células, e é nisso que o cartesianismo tem<br />

razão. Mas também não se trata de um empreendimento tão<br />

absurdo. Trata-se apenas de reconhecer que o corpo, enquanto<br />

edifício químico ou reunião de tecidos, é formado por empobrecimento<br />

a partir de um fenômeno primordial do corpopara-nós,<br />

do corpo <strong>da</strong> experiência humana ou do corpo percebido,<br />

que o pensamento objetivo investe mas do qual ele<br />

não precisa postular a análise acaba<strong>da</strong>. No que diz respeito<br />

à consciência, precisamos concebê-la não mais como uma<br />

consciência constituinte e como um puro ser-para-si, mas como<br />

uma consciência perceptiva, como o sujeito de um comportamento,<br />

como ser no mundo ou existência, pois é somente

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