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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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O MUNDO PERCEBIDO 479<br />

trar um mundo comum pergunta-se quem comunica e para<br />

quem este mundo existe. E se alguém comunica-se com alguém,<br />

se o intermundo não é um em si inconcebível, se ele<br />

deve existir para nós dois, então a comunicação rompe-se novamente<br />

e ca<strong>da</strong> um de nós opera em seu mundo privado, assim<br />

como dois jogadores operam em dois tabuleiros de xadrez<br />

distintos, a 100 quilômetros um do outro. Ao menos os<br />

jogadores podem, por telefone ou por correspondência,<br />

comunicar-se suas decisões, o que significa dizer que eles fazem<br />

parte do mesmo mundo. Ao contrário, eu não tenho,<br />

rigorosamente, nenhum terreno comum com outrem, a posição<br />

de outrem com seu mundo e a posição de mim mesmo<br />

com meu mundo constituem uma alternativa. Uma vez outrem<br />

posto, uma vez que o olhar de outrem sobre mim,<br />

inserindo-me em seu campo, me despojou de uma parte de<br />

meu ser, compreende-se que eu só possa recuperá-la travando<br />

relações com outrem, fazendo-me reconhecer livremente<br />

por ele, e que minha liber<strong>da</strong>de exija para os outros a mesma<br />

liber<strong>da</strong>de. Mas em primeiro lugar seria preciso saber como<br />

pude pôr outrem. Enquanto eu nasci, enquanto tenho um corpo<br />

e um mundo natural, posso encontrar neste mundo outros<br />

comportamentos com os quais o meu se entrelace, como<br />

o explicamos acima. Mas igualmente enquanto nasci, enquanto<br />

minha existência já opera, sabe-se <strong>da</strong><strong>da</strong> a si mesma, ela<br />

sempre permanece aquém dos atos em que quer engajar-se,<br />

que são para sempre apenas mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des suas, casos particulares<br />

de sua intransponível generali<strong>da</strong>de. E este fundo de<br />

existência <strong>da</strong><strong>da</strong> que o cogito constata: to<strong>da</strong> afirmação, todo<br />

engajamento e mesmo to<strong>da</strong> negação, to<strong>da</strong> dúvi<strong>da</strong> tem lugar<br />

em um campo previamente aberto, atesta um si que se toca<br />

antes dos atos particulares nos quais ele perde contato consigo<br />

mesmo. Este si, testemunho de to<strong>da</strong> comunicação efetiva<br />

e sem o qual ela não se saberia e então não seria comunicação,<br />

parece proibir to<strong>da</strong> solução do problema do outro. Exis-

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