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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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o CORPO 223<br />

neira, ele é aquilo que significa, assim como um retrato é a<br />

quase presença de Pedro ausente 8 , ou como as figuras de cera,<br />

na magia, são aquilo que representam. A doente não imita<br />

com seu corpo um drama que se passaria "em sua consciência".<br />

Perdendo a voz, ela não traduz no exterior um "estado<br />

interior", ela não faz uma "manifestação" como o chefe de<br />

Estado que aperta a mão do maquinista de uma locomotiva<br />

ou que abraça um camponês, ou como um amigo aborrecido<br />

que não mais me dirige a palavra. Estar afônico não é calarse:<br />

só nos calamos quando podemos falar. Sem dúvi<strong>da</strong>, a afonia<br />

não é uma paralisia, e a prova disso é que, trata<strong>da</strong> por<br />

medicamentos psicológicos e deixa<strong>da</strong> livre por sua famflia para<br />

rever aquele a quem ama, a moça recupera a fala. Mas a afonia<br />

também não é um silêncio preparado ou desejado. Sabese<br />

como a teoria <strong>da</strong> histeria foi leva<strong>da</strong> a ultrapassar, com a<br />

noção de pitiatismo, a alternativa entre a paralisia (ou a anestesia)<br />

e a simulação. Se o histérico é um simulador, em primeiro<br />

lugar é em relação a si mesmo, de forma que é impossível<br />

colocar em paralelo aquilo que ele ver<strong>da</strong>deiramente sente<br />

ou pensa e aquilo que ele exprime no exterior: o pitiatismo<br />

é uma doença do Cogito, é a consciência torna<strong>da</strong> ambivalente,<br />

e não uma recusa delibera<strong>da</strong> de confessar aquilo que se<br />

sabe. Aqui, <strong>da</strong> mesma maneira, a moça não deixa de falar,<br />

ela "perde" a voz, como se perde uma recor<strong>da</strong>ção. Também<br />

é ver<strong>da</strong>de que, como o mostra a psicanálise, a recor<strong>da</strong>ção perdi<strong>da</strong><br />

não é perdi<strong>da</strong> por acaso, ela só o é enquanto pertence<br />

a uma certa região de minha vi<strong>da</strong> que eu recuso, enquanto<br />

ela tem uma certa significação e, como to<strong>da</strong>s as significações,<br />

esta só existe para alguém. Portanto, o esquecimento é um<br />

ato; eu conservo à distância essa recor<strong>da</strong>ção, assim desvio o<br />

olhar de uma pessoa que não quero ver. To<strong>da</strong>via, como a<br />

psicanálise também o mostra muito bem, se a resistência supõe<br />

uma relação intencional com a recor<strong>da</strong>ção à qual se resiste,<br />

ela não a põe diante de nós como um objeto, ela não

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