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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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O MUNDO PERCEBIDO 475<br />

do interlocutor são reclamados pelo estado <strong>da</strong> discussão, eles<br />

se inserem em uma operação comum <strong>da</strong> qual nenhum de nós<br />

é o criador. Existe ali um ser a dois, e agora outrem não é<br />

mais para mim um simples comportamento em meu campo<br />

transcendental, aliás nem eu no seu, nós somos, um para o<br />

outro, colaboradores em uma reciproci<strong>da</strong>de perfeita, nossas<br />

perspectivas escorregam uma na outra, nós coexistimos através<br />

de um mesmo mundo. No diálogo presente, estou liberado<br />

de mim mesmo, os pensamentos de outrem certamente<br />

são pensamentos seus, não sou eu quem os forma, embora<br />

eu os apreen<strong>da</strong> assim que nasçam ou que eu os antecipe, e<br />

mesmo a objeção que o interlocutor me faz me arranca pensamentos<br />

que eu não sabia possuir, de forma que, se eu lhe<br />

empresto pensamentos, em troca ele me faz pensar. E somente<br />

depois, quando me retirei do diálogo e o rememoro, que posso<br />

reintegrá-lo à minha vi<strong>da</strong>, fazer dele um episódio de minha<br />

história priva<strong>da</strong>, e que o outro regressa à sua ausência ou,<br />

na medi<strong>da</strong> em que permanece presente, é sentido por mim<br />

como uma ameaça. A percepção de outrem e o mundo intersubjetivo<br />

só representam problema para os adultos. A criança<br />

vive em um mundo que ela acredita imediatamente acessível<br />

a todos aqueles que a circun<strong>da</strong>m, ela não tem nenhuma<br />

consciência de si mesma, nem tampouco dos outros, como<br />

subjetivi<strong>da</strong>des priva<strong>da</strong>s, ela não suspeita que nós todos e ela<br />

mesma estejamos limitados a um certo ponto de vista sobre<br />

o mundo. É por isso que ela não submete à crítica nem seus<br />

pensamentos, nos quais crê na medi<strong>da</strong> em que eles se apresentam<br />

e sem procurar ligá-los, nem nossas falas. Ela não tem<br />

a ciência dos pontos de vista. Para ela, os homens são cabeças<br />

vazias dirigi<strong>da</strong>s a um mundo único, um mundo evidente<br />

em que tudo se passa, mesmo os sonhos que, ela acredita,<br />

estão no quarto, mesmo o pensamento, já que ele não é distinguido<br />

<strong>da</strong>s falas. Para ela, os outros são olhares que inspe-

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