12.04.2013 Views

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

504 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

menos a "estados de consciência privados", o contato cego<br />

<strong>da</strong> sensação consigo mesma — não é nem mesmo a imanência<br />

transcendental, a pertença de todos os fenômenos a uma<br />

consciência constituinte, a posse do pensamento claro por si<br />

mesmo —, é o movimento profundo de transcendência que<br />

é meu próprio ser, o contato simultâneo com meu ser e com<br />

o ser do mundo.<br />

To<strong>da</strong>via, o caso <strong>da</strong> percepção não seria particular? Ela<br />

me abre a um mundo, ela só pode fazê-lo ultrapassando-me<br />

e ultrapassando-se, é preciso que a "síntese" perceptiva seja<br />

inacaba<strong>da</strong>, ela só pode oferecer-me um "real" expondo-se<br />

ao risco do erro, é necessário que a coisa, se deve ser uma<br />

coisa, tenha para mim lados escondidos, e é por isso que a<br />

distinção entre a aparência e a reali<strong>da</strong>de imediatamente tem<br />

seu lugar na "síntese" perceptiva. Ao contrário, a consciência,<br />

parece, retoma seus direitos e a plena posse de si mesma<br />

se considero minha consciência dos "fatos psíquicos". O amor<br />

e a vontade, por exemplo, são operações interiores; eles se<br />

fabricam seus objetos, e compreende-se que, ao fazê-lo, eles<br />

possam desviar-se do real e, neste sentido, enganar-nos, mas<br />

parece impossível que eles nos enganem sobre si mesmos: a<br />

partir do momento em que sinto o amor, a alegria ou a tristeza,<br />

é ver<strong>da</strong>de que amo, que estou alegre ou triste, mesmo<br />

se de fato, quer dizer, para outros ou para mim mesmo em<br />

um outro momento, o objeto não tenha o valor que presentemente<br />

lhe atribuo. Em mim a aparência é reali<strong>da</strong>de, o ser<br />

<strong>da</strong> consciência é manifestar-se. O que é querer senão ter consciência<br />

de um objeto como valioso (ou como valioso justamente<br />

enquanto não é valioso, no caso <strong>da</strong> vontade perversa),<br />

o que é amar senão ter consciência de um objeto como amável?<br />

E como a consciência de um objeto envolve necessariamente<br />

um saber de si mesma, sem o que ela escaparia a si<br />

e nem mesmo apreenderia seu objeto, querer e saber que se<br />

quer, amar e saber que se ama são um único ato, o amor é

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!