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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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128 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

supõe, ela também, a oblíteração do real. Se a recor<strong>da</strong>ção e<br />

a emoção podem fazer aparecer o membro fantasma, não é<br />

como uma cogitatio exige uma outra cogitatio, ou como uma<br />

condição determina sua conseqüência — não é porque uma<br />

causali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> idéia se superponha aqui a uma causali<strong>da</strong>de<br />

fisiológica, é porque uma atitude existencial motiva uma outra<br />

e porque recor<strong>da</strong>ção, emoção, membro fantasma são equivalentes<br />

em relação ao ser no mundo. Por que, enfim, a secção<br />

dos condutos aferentes suprime o membro fantasma? Na<br />

perspectiva do ser no mundo, esse fato significa que as excitações<br />

vin<strong>da</strong>s do coto mantêm o membro amputado no circuito<br />

<strong>da</strong> existência. Elas marcam e conservam seu lugar, fazem<br />

com que ele não seja anulado, com que ain<strong>da</strong> conte no<br />

organismo, elas preparam um vazio que a história do paciente<br />

vai preencher, permitem-lhe tornar real um fantasma assim<br />

como os distúrbios estruturais permitem ao conteúdo <strong>da</strong> psicose<br />

tornar real um delírio. De nosso ponto de vista, um circuito<br />

sensorimotor é, no interior de nosso ser no mundo global,<br />

uma corrente de existência relativamente autônoma. Não<br />

porque ele sempre traga ao nosso ser total uma contribuição<br />

separável, mas porque, em certas condições, é possível pôr<br />

em evidência respostas constantes para estímulos também<br />

constantes. Trata-se portanto de saber por que a recusa <strong>da</strong><br />

deficiência, que é uma atitude de conjunto de nossa existência,<br />

precisa, para se realizar, dessa mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de muito especial<br />

que é um circuito sensorimotor, e por que nosso ser no<br />

mundo, que dá seu sentido a todos os nossos reflexos, e que<br />

sob esse aspecto os fun<strong>da</strong>, se entrega to<strong>da</strong>via a eles e para<br />

terminar se fun<strong>da</strong> neles. De fato, nós o mostramos alhures,<br />

os circuitos sensorimotores delineiam-se tanto mais claramente<br />

quando tratamos com existências mais integra<strong>da</strong>s, e o reflexo<br />

em estado puro quase só se encontra no homem, que tem<br />

não apenas um meio circun<strong>da</strong>nte (Umwelt), mas ain<strong>da</strong> um<br />

mundo (Weltf-^. Do ponto de vista <strong>da</strong> existência, esses dois

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