12.04.2013 Views

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

O MUNDO PERCEBIDO 389<br />

o louco, o sonhador ou o sujeito <strong>da</strong> percepção devem ser acreditados<br />

pelo que dizem, e deve-se apenas assegurar-se de que<br />

sua linguagem exprime bem aquilo que vivem; ou então aquele<br />

que vive algo não é juiz <strong>da</strong>quilo que vive, e então a experiência<br />

<strong>da</strong> evidência pode ser uma ilusão. Para destituir a experiência<br />

mítica, a do sonho ou a <strong>da</strong> percepção de qualquer<br />

valor positivo, para reintegrar os espaços no espaço geométrico,<br />

é preciso, em suma, negar que seriamente alguma vez<br />

se sonhe, alguma vez se esteja louco, alguma vez se perceba.<br />

Enquanto se admite o sonho, a loucura ou a percepção, pelo<br />

menos como ausências <strong>da</strong> reflexão — e como não fazê-lo e<br />

se se quer conservar um valor ao testemunho <strong>da</strong> consciência,<br />

sem o qual nenhuma ver<strong>da</strong>de é possível —, não se tem o direito<br />

de nivelar to<strong>da</strong>s as experiências em um só mundo, to<strong>da</strong>s<br />

as mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des <strong>da</strong> existência em uma só consciência. Para<br />

fazê-lo, seria preciso dispor de uma instância superior à<br />

qual se pudesse submeter a consciência perceptiva e a consciência<br />

fantástica, de um eu mais íntimo a mim mesmo do<br />

que eu que penso meu sonho ou minha percepção quando<br />

me limito a sonhar ou a perceber, que possuísse a ver<strong>da</strong>deira<br />

substância de meu sonho e de minha percepção quando eu<br />

só tenho sua aparência. Mas essa mesma distinção entre a<br />

aparência e o real não é feita nem no mundo do mito, nem<br />

no do doente e <strong>da</strong> criança. O mito considera a essência na<br />

aparência, o fenômeno mítico não é uma representação mas<br />

uma ver<strong>da</strong>deira presença. Depois <strong>da</strong> conjura, o demônio <strong>da</strong><br />

chuva está presente em ca<strong>da</strong> gota que cai, assim como a alma<br />

está presente em ca<strong>da</strong> parte do corpo. Aqui, to<strong>da</strong> "aparição"<br />

{Erscheinung) é uma encarnação 74 , e os seres não são<br />

definidos tanto por "proprie<strong>da</strong>des" quanto por caracteres fisionômicos.<br />

É isso o que se quer dizer de válido ao falar de<br />

um animismo infantil e primitivo: não que a criança e o primitivo<br />

percebam objetos que, como dizia Comte, eles procurariam<br />

explicar por intenções ou consciências; a consciência

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!