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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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O MUNDO PERCEBIDO 391<br />

como dizia Malebranche a propósito de Adão, eles só o tocam<br />

com respeito. O que cria a alucinação, assim como o mito,<br />

é o estreitamento do espaço vivido, o enraizamento <strong>da</strong>s coisas<br />

em nosso corpo, a vertiginosa proximi<strong>da</strong>de do objeto, a soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de<br />

entre o homem e o mundo que está não aboli<strong>da</strong>,<br />

mas recalca<strong>da</strong> pela percepção de todos os dias ou pelo pensamento<br />

objetivo, e que a consciência filosófica reencontra. Sem<br />

dúvi<strong>da</strong>, se reflito sobre a consciência <strong>da</strong>s posições e <strong>da</strong>s direções<br />

no mito, no sonho e na percepção, se as ponho e as fixo<br />

segundo os métodos do pensamento objetivo, reencontro nelas<br />

as relações do espaço geométrico. Não se deve concluir disso<br />

que elas já estavam ali, mas, inversamente, que a reflexão ver<strong>da</strong>deira<br />

não é aquela. Para saber o que significa o espaço mítico<br />

ou esquizofrênico, não temos outro meio senão despertar<br />

em nós, em nossa percepção atual, a relação entre o sujeito<br />

e seu mundo que a análise reflexiva faz desaparecer. É preciso<br />

reconhecer, antes dos "atos de significação" (Bedeutungsgebende<br />

Akten) do pensamento teórico e tético, as "experiências<br />

expressivas" (Ausdruckserlebnisse); antes do sentido significado<br />

(Zeichen-Sinn), o sentido expressivo (Ausdruc/cs-Sinn); antes <strong>da</strong><br />

subsunção do conteúdo à forma, a "pregnância" simbólica 78<br />

<strong>da</strong> forma no conteúdo.<br />

Isso quer dizer que se dá razão ao psicologismo? Já que<br />

existem tantos espaços quantas experiências espaciais distintas,<br />

e já que não nos <strong>da</strong>mos o direito de realizar antecipa<strong>da</strong>mente,<br />

na experiência infantil, mórbi<strong>da</strong> ou primitiva, as configurações<br />

<strong>da</strong> experiência adulta, normal e civiliza<strong>da</strong>, não encerramos<br />

ca<strong>da</strong> tipo de subjetivi<strong>da</strong>de e, no limite, ca<strong>da</strong> consciência<br />

em sua vi<strong>da</strong> priva<strong>da</strong>? Ao cogito racionalista, que encontrava<br />

em mim uma consciência constituinte universal, não<br />

substituímos o cogito do psicólogo, que permanece na experiência<br />

de sua vi<strong>da</strong> incomunicável? Não definimos a subjetivi<strong>da</strong>de<br />

pela coincidência de ca<strong>da</strong> um com ela? A investigação<br />

do espaço e, em geral, <strong>da</strong> experiência em estado nascen-

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