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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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376 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

cepção, eles a circunscrevem e a obse<strong>da</strong>m por uma operação<br />

pré-consciente cujos resultados nos aparecem como inteiramente<br />

prontos. Os casos de percepção ambígua, em que podemos<br />

escolher nossa ancoragem ao nosso bel-prazer, são<br />

aqueles em que nossa percepção está artificialmente corta<strong>da</strong><br />

de seu contexto e de seu passado, em que não percebemos<br />

com todo o nosso ser, em que brincamos com nosso corpo<br />

e com esta generali<strong>da</strong>de que sempre lhe permite romper todo<br />

engajamento histórico e funcionar por sua própria conta. Mas,<br />

se podemos romper com um mundo humano, não podemos<br />

impedir-nos de fixar nossos olhos — o que representa dizer<br />

que enquanto vivemos permanecemos engajados, se não em<br />

um ambiente humano, pelo menos em um ambiente físico<br />

— e para uma <strong>da</strong><strong>da</strong> fixação do olhar a percepção não é facultativa.<br />

Ela o é menos ain<strong>da</strong> quando a vi<strong>da</strong> do corpo está integra<strong>da</strong><br />

à nossa existência concreta. Posso ver à vontade meu<br />

trem ou o trem vizinho em movimento se não faço na<strong>da</strong> ou<br />

se me interrogo sobre as ilusões do movimento. Mas, "quando<br />

jogo cartas em meu compartimento, vejo o trem vizinho<br />

mover-se, mesmo se na reali<strong>da</strong>de é o meu que parte; quando<br />

olho o outro trem e lá procuro alguém, agora é meu próprio<br />

trem que arranca" 50 . O compartimento que escolhemos como<br />

domicílio está "em repouso", suas paredes são "verticais"<br />

e a paisagem desfila diante de nós, em um lado os abetos<br />

vistos através <strong>da</strong> janela nos parecem oblíquos. Se nos colocamos<br />

à porta, voltamos a entrar no grande mundo para<br />

além de nosso pequeno mundo, os abetos aprumam-se e permanecem<br />

imóveis, o trem inclina-se segundo o declive e<br />

esquiva-se através do campo. A relativi<strong>da</strong>de do movimento<br />

reduz-se ao poder que temos de mu<strong>da</strong>r de domínio no interior<br />

do grande mundo. Uma vez engajados em um ambiente,<br />

vemos o movimento aparecer diante de nós como um absoluto.<br />

Sob a condição de levar em consideração não apenas<br />

atos de conhecimento explícito, cogitationes, mas ain<strong>da</strong> o ato

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