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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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O SER-PARA-SI E O SER-NO-MUNDO 519<br />

consciência perceptiva, é ao mundo <strong>da</strong> percepção que tomo<br />

de empréstimo a noção de essência. Acredito que o triângulo<br />

sempre teve e sempre terá uma soma de ângulos igual a dois<br />

retos, e to<strong>da</strong>s as outras proprie<strong>da</strong>des menos visíveis que a geometria<br />

lhe atribui, porque tenho a experiência de um triângulo<br />

real e porque, como coisa física, ele necessariamente tem<br />

em si mesmo tudo aquilo que ele pôde ou poderá manifestar.<br />

Se a coisa percebi<strong>da</strong> não tivesse fun<strong>da</strong>do em nós, para sempre,<br />

o ideal do ser que é aquilo que é, não haveria fenômeno<br />

do ser e o pensamento matemático nos apareceria como uma<br />

criação. Aquilo que chamo de essência do triângulo é apenas<br />

esta presunção de uma síntese acaba<strong>da</strong> pela qual nós definimos<br />

a coisa.<br />

Nosso corpo, enquanto se move a si mesmo, quer dizer,<br />

enquanto é inseparável de uma visão do mundo e é esta mesma<br />

visão realiza<strong>da</strong>, é a condição de possibili<strong>da</strong>de, não apenas<br />

<strong>da</strong> síntese geométrica, mas ain<strong>da</strong> de to<strong>da</strong>s as-operações<br />

expressivas e de to<strong>da</strong>s as aquisições que constituem o mundo<br />

cultural. Quando se diz que o pensamento é espontâneo, isso<br />

não quer dizer que ele coinci<strong>da</strong> consigo mesmo, isso quer<br />

dizer, ao contrário, que ele se ultrapassa, e a fala é justamente<br />

o ato pelo qual ele se eterniza em ver<strong>da</strong>de. Com efeito, é<br />

manifesto que a fala não pode ser considera<strong>da</strong> como uma simples<br />

veste do pensamento, nem a expressão como a tradução,<br />

em um sistema arbitrário de signos, de uma significação para<br />

si já clara. Repete-se que os sons e os fonemas por si mesmos<br />

não querem dizer na<strong>da</strong>, e que nossa consciência só pode<br />

encontrar na linguagem aquilo que ali ela colocou. Mas disso<br />

resultaria que a linguagem na<strong>da</strong> pode ensinar-nos, e que<br />

no máximo ela pode suscitar em nós novas combinações <strong>da</strong>s<br />

significações que já possuímos. É contra isso que a experiência<br />

<strong>da</strong> linguagem testemunha. E ver<strong>da</strong>de que a comunicação<br />

pressupõe um sistema de correspondências tal como o que é<br />

<strong>da</strong>do pelo dicionário, mas ela vai além, e é a frase que dá

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