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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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O MUNDO PERCEBIDO 449<br />

temente que lhes falam por telefone ou pelo rádio, é justamente<br />

para exprimir que o mundo mórbido é factício, e que lhe falta<br />

algo para ser uma "reali<strong>da</strong>de". As vozes são vozes de maleducados<br />

ou "de pessoas que querem parecer mal-educa<strong>da</strong>s'',<br />

é um jovem que simula a voz de um velho, é "como se um<br />

alemão tentasse falar iídiche" 64 . "É como quando uma pessoa<br />

diz algo a alguém, mas isso não chega até o som." 60 Essas<br />

confissões não concluem todo debate sobre a alucinação?<br />

Já que a alucinação não é um conteúdo sensorial, só resta<br />

considerá-la como um juízo, como uma interpretação ou como<br />

uma crença. Mas, se os doentes não acreditam na alucinação<br />

no mesmo sentido em que se crê nos objetos percebidos,<br />

uma teoria intelectualista <strong>da</strong> alucinação é também impossível.<br />

Alain cita a frase de Montaigne sobre os loucos "que<br />

crêem ver aquilo que efetivamente não vêem" 66 . Mas justamente<br />

os loucos não crêem ver ou, por pouco que os interroguemos,<br />

sobre este ponto eles retificam suas declarações. A alucinação<br />

não é um juízo ou uma crença temerária pelas mesmas<br />

razões que a impedem de ser um conteúdo sensorial: o juízo<br />

ou a crença só poderiam consistir em pôr a alucinação como<br />

ver<strong>da</strong>deira, e é justamente isso que os doentes não fazem. No<br />

plano do juízo, eles distinguem entre a alucinação e a percepção,<br />

em todo caso eles argumentam contra suas alucinações:<br />

ratos não podem sair <strong>da</strong> boca e tornar a entrar no estômago 67 ,<br />

um médico que ouve vozes toma um barco e rema para o altomar<br />

para persuadir-se de que ninguém ver<strong>da</strong>deiramente lhe<br />

fala 68 . Quando a crise alucinatória sobrevém, o rato e as vozes<br />

estão novamente ali.<br />

Por que o empirismo e o intelectualismo malogram em<br />

compreender a alucinação, e qual outro método nos permitirá<br />

compreendê-la? O empirismo tenta explicar a alucinação<br />

como a percepção: pelo efeito de certas causas fisiológicas,<br />

por exemplo a irritação dos centros nervosos, <strong>da</strong>dos sensíveis<br />

apareceriam do mesmo modo que aparecem na percepção,

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