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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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OS PREJUÍZOS CLÁSSICOS E O RETORNO AOS FENÔMENOS 79<br />

menos o motivo <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças que intervieram no espetáculo,<br />

e assim pode compreendê-las imediatamente. Quando tenho<br />

a intenção de olhar para a esquer<strong>da</strong>, este movimento do<br />

olhar traz nele, como sua tradução natural, uma oscilação<br />

do campo visual: os objetos permanecem no seu lugar, mas<br />

depois de terem vibrado por um instante. Essa conseqüência<br />

não é aprendi<strong>da</strong>, ela faz parte <strong>da</strong>s montagens naturais do sujeito<br />

psicofísico, ela é, nós o veremos, um anexo de nosso ' 'esquema<br />

corporal", é a significação imanente de um deslocamento<br />

do "olhar". Quando ela falha, quando temos consciência<br />

de mover os olhos sem que com isso o espetáculo seja<br />

afetado, este fenômeno se traduz, sem nenhuma tradução expressa,<br />

por um aparente deslocamento do objeto para a esquer<strong>da</strong>.<br />

O olhar e a paisagem permanecem como que colados<br />

um ao outro, nenhum estremecimento os dissocia, o<br />

olhar, em seu deslocamento ilusório, leva consigo a paisagem,<br />

e o deslizamento <strong>da</strong> paisagem no fundo é apenas sua<br />

fixidez no fim de um olhar que se crê em movimento. Assim,<br />

a imobili<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s imagens na retina e a paralisia dos<br />

músculos óculo-motores não são causas objetivas que determinariam<br />

a ilusão e a levariam inteiramente pronta à consciência.<br />

A intenção de mover o olho e a docili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> paisagem<br />

a esse movimento não são mais premissas ou razões <strong>da</strong><br />

ilusão. Mas elas são seus motivos. Da mesma maneira, os objetos<br />

interpostos entre mim e aquilo que fixo não são percebidos<br />

por eles mesmos; mas eles são to<strong>da</strong>via percebidos, e<br />

não temos razão para recusar a essa percepção marginal um<br />

papel na visão <strong>da</strong> distância, já que, a partir do momento em<br />

que um anteparo esconde os objetos interpostos, a distância<br />

aparente se estreita. Os objetos que preenchem o campo não<br />

agem sobre a distância aparente como uma causa sobre seu<br />

efeito. Quando se afasta o anteparo, vemos o distanciamento<br />

nascer dos objetos interpostos. É essa a linguagem mu<strong>da</strong> que<br />

a percepção nos fala: neste texto natural, objetos interpostos

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