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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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502 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

tender a consciência que teríamos de nosso poder constituinte.<br />

Quaisquer que sejam nossas percepções empíricas, que podem<br />

ser ver<strong>da</strong>deiras ou falsas, essas percepções só seriam possíveis<br />

se habita<strong>da</strong>s por um espírito capaz de reconhecer, de<br />

identificar e de manter diante de nós o seu objeto intencional.<br />

Mas se esse poder constituinte não é um mito, se a percepção<br />

é ver<strong>da</strong>deiramente o simples prolongamento de um<br />

dinamismo interior com o qual posso coincidir, a certeza que<br />

tenho <strong>da</strong>s premissas transcendentais do mundo deve estenderse<br />

até o próprio mundo e, minha visão sendo de um lado a<br />

outro pensamento de ver, a coisa vista é em si mesma aquilo<br />

que dela penso, e o idealismo transcendental é um realismo<br />

absoluto. Seria contraditório afirmar ao mesmo tempo 16 que<br />

o mundo é constituído por mim e que, dessa operação constitutiva,<br />

só posso apreender o esboço e as estruturas essenciais;<br />

ao termo do trabalho constitutivo é preciso que eu veja<br />

surgir o mundo existente, e não apenas o mundo em idéia,<br />

ou eu só teria uma construção abstrata e não uma consciência<br />

concreta do mundo. Assim, em qualquer sentido que o<br />

tomemos, o "pensamento de ver" só é certo se a visão efetiva<br />

também o é. Quando Descartes nos diz que a sensação,<br />

reduzi<strong>da</strong> a si mesma, é sempre ver<strong>da</strong>deira, e que o erro se<br />

introduz pela interpretação transcendente que o juízo lhe dá,<br />

ele faz ali uma distinção ilusória: para mim não é menos difícil<br />

saber se senti algo do que saber se ali existe algo, e o histérico<br />

sente e não conhece aquilo que sente, assim como percebe<br />

objetos exteriores sem se <strong>da</strong>r conta dessa percepção. Ao<br />

contrário, quando estou seguro de ter sentido, a certeza de<br />

uma coisa exterior está envolvi<strong>da</strong> na própria maneira pela<br />

qual a sensação se articula e se desenvolve diante de mim:<br />

trata-se de uma dor <strong>da</strong> perna, ou é uma sensação de vermelho<br />

e, por exemplo, do vermelho opaco em um único plano ou,<br />

ao contrário, de uma atmosfera avermelha<strong>da</strong> com três dimensões.<br />

A "interpretação" que dou de minhas sensações deve

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