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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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536 FENOMENOLOGJA DA PERCEPÇÃO<br />

ve aparecer a alguém, é necessário que atrás de todos os nossos<br />

pensamentos particulares se escave um reduto de não-ser,<br />

um Si. Não é preciso que eu me reduza a uma série de "consciências'<br />

', e é preciso que ca<strong>da</strong> uma delas, com suas sedimentações<br />

históricas e as implicações sensíveis <strong>da</strong>s quais está<br />

preenchi<strong>da</strong>, se apresente a um perpétuo ausente. Nossa situação<br />

é portanto a seguinte: para saber que pensamos, em<br />

primeiro lugar é preciso que efetivamente pensemos. E to<strong>da</strong>via<br />

esse engajamento não remove to<strong>da</strong>s as dúvi<strong>da</strong>s, meus pensamentos<br />

não abafam meu poder de interrogar; uma palavra,<br />

uma idéia, considera<strong>da</strong>s como acontecimentos de minha<br />

história, só têm um sentido para mim se retomo este sentido<br />

do interior. Sei que penso por tais ou tais pensamentos particulares<br />

que tenho, e sei que tenho esses pensamentos porque<br />

eu os assumo, quer dizer, porque sei que penso em geral. A<br />

visa<strong>da</strong> de um termo transcendente e a visão de mim mesmo<br />

visando-o, a consciência do ligado e a consciência do ligante<br />

estão em uma relação circular. O problema é compreender<br />

como posso ser constituinte de meu pensamento em geral, sem<br />

o que ele não seria pensado por ninguém, passaria despercebido<br />

e então não seria um pensamento — sem nunca sê-lo<br />

de nenhum de meus pensamentos particulares, já que nunca<br />

os vejo nascer em plena clari<strong>da</strong>de e só me conheço através<br />

deles. Trata-se de compreender como a subjetivi<strong>da</strong>de pode<br />

ser ao mesmo tempo dependente e indeclinável.<br />

Tentemos fazê-lo através do exemplo <strong>da</strong> linguagem. Existe<br />

uma consciência de mim mesmo que usa a linguagem e<br />

que é inteira murmurante de palavras. Leio a Segun<strong>da</strong> Meditação.<br />

É exatamente de mim que ali se trata, mas de um<br />

eu em idéia que não é propriamente nem o meu, nem tampouco<br />

o de Descartes, mas aquele de todo homem que reflete.<br />

Seguindo o sentido <strong>da</strong>s palavras e o elo entre as idéias,<br />

chego a esta conclusão de que, porque penso, sou, mas este<br />

é um Cogito verbal, eu só apreendi meu pensamento e minha

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