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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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530 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

absoluto se pudéssemos tematizar todos os seus motivos, quer<br />

dizer, se deixássemos de estar situados. Portanto, a posse efetiva<br />

<strong>da</strong> idéia ver<strong>da</strong>deira não nos dá nenhum direito de afirmar<br />

um lugar inteligível de pensamento adequado e de produtivi<strong>da</strong>de<br />

absoluta, ela fun<strong>da</strong> apenas uma "teleologia" 31 <strong>da</strong><br />

consciência que, com o primeiro instrumento, forjará outros<br />

mais perfeitos, com estes outros mais perfeitos e assim sem<br />

fim. "É apenas por uma intuição eidética que a essência <strong>da</strong><br />

intuição eidética pode ser ilumina<strong>da</strong>", diz Husserl 32 . Em<br />

nossa experiência, a intuição de alguma essência particular<br />

precede necessariamente a essência <strong>da</strong> intuição. A única maneira<br />

de pensar o pensamento é, em primeiro lugar, pensar<br />

algo, e portanto é essencial àquele pensamento não tomar-se<br />

a si mesmo como objeto. Pensar o pensamento é adotar em<br />

relação a ele uma atitude que primeiramente nós aprendemos<br />

a adotar em relação às "coisas", e isso nunca é eliminar,<br />

é apenas transferir para mais acima a opaci<strong>da</strong>de do pensamento<br />

para si mesmo. To<strong>da</strong> para<strong>da</strong> no movimento <strong>da</strong> consciência,<br />

to<strong>da</strong> fixação do objeto, to<strong>da</strong> aparição de um "algo"<br />

ou de uma idéia supõe um sujeito que deixa de se interrogar<br />

pelo menos sobre aquilo. Eis por que, como Descartes o dizia,<br />

é ao mesmo tempo ver<strong>da</strong>deiro que certas idéias se apresentam<br />

a mim com uma evidência de fato irresistível, e que<br />

este fato nunca valha como direito, não suprima a possibili<strong>da</strong>de<br />

de duvi<strong>da</strong>r a partir do momento em que não estamos<br />

mais em presença <strong>da</strong> idéia. Não é um acaso se a própria evidência<br />

pode ser posta em dúvi<strong>da</strong>, é que a certeza é dúvi<strong>da</strong>, sendo<br />

a retoma<strong>da</strong> de uma tradição de pensamento que não pode<br />

condensar-se em "ver<strong>da</strong>de" evidente sem que eu renuncie<br />

a explicitá-la. E pelas mesmas razões que uma evidência é<br />

irresistível de fato e sempre recusável, e estas são duas maneiras<br />

de dizer uma única coisa: ela é irresistível porque eu<br />

assumo como incontestável um certo saber adquirido por experiência,<br />

um certo campo de pensamento, e justamente por

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