12.04.2013 Views

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

416 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

assim como na comunicação verbal pensamos segundo outrem.<br />

E, assim como a comunicação supõe (ultrapassando-a<br />

e enriquecendo-a no caso de uma fala nova e autêntica) uma<br />

certa montagem lingüística pela qual um sentido habita as<br />

palavras, <strong>da</strong> mesma maneira a percepção supõe em nós um<br />

aparato capaz de responder às solicitações <strong>da</strong> luz segundo seu<br />

sentido (quer dizer, ao mesmo tempo segundo sua direção<br />

e sua significação, que são uma e a mesma coisa), de concentrar<br />

a visibili<strong>da</strong>de esparsa, de terminar aquilo que está esboçado<br />

no espetáculo. Esse aparato é o olhar, em outros termos<br />

a correlação natural entre aparências e nosso desenrolar cinestésico,<br />

não conheci<strong>da</strong> em uma lei, mas vivi<strong>da</strong> como o engajamento<br />

de nosso corpo nas estruturas típicas de um mundo.<br />

A iluminação e a constância <strong>da</strong> coisa ilumina<strong>da</strong>, que é<br />

seu correlativo, dependem diretamente de nossa situação corporal.<br />

Se, em um cômodo vivamente iluminado, observamos<br />

um disco branco colocado em um canto de penumbra, a constância<br />

do branco é imperfeita. Ela melhora quando nos aproximamos<br />

<strong>da</strong> zona de penumbra em que se encontra o disco.<br />

Torna-se perfeita quando ali entramos 25 . A penumbra só se<br />

torna ver<strong>da</strong>deiramente penumbra (e, correlativamente, o disco<br />

só vale como branco) quando deixa de estar diante de nós<br />

como algo para ver, e quando nos envolve, quando se torna<br />

nosso ambiente, quando nós nos estabelecemos nela. Só se<br />

pode compreender esse fenômeno se o espetáculo, longe de<br />

ser uma soma de objetos, um mosaico de quali<strong>da</strong>des exposto<br />

diante de um sujeito acósmico, enre<strong>da</strong> o sujeito e lhe propõe<br />

um pacto. A iluminação não está do lado do objeto, ela é aquilo<br />

que nós assumimos, aquilo que tomamos como norma enquanto<br />

a coisa ilumina<strong>da</strong> se destaca diante de nós e nos faz<br />

frente. A iluminação não é nem cor, nem mesmo luz em si<br />

mesma, ela está aquém <strong>da</strong> distinção <strong>da</strong>s cores e <strong>da</strong>s luminosi<strong>da</strong>des.<br />

E é por isso que para nós ela sempre tende a tornarse<br />

"neutra". A penumbra onde permanecemos torna-se pa-

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!