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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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O MUNDO PERCEBIDO 291<br />

já que, se eu os pensasse assim, eu me suporia preexistente<br />

ou sobrevivente a mim mesmo para poder experimentá-los,<br />

e portanto não pensaria seriamente meu nascimento ou minha<br />

morte. Portanto, só posso apreender-me como "já nascido"<br />

e "ain<strong>da</strong> vivo", apreender meu nascimento e minha<br />

morte como horizontes pré-pessoais: sei que se nasce e que<br />

se morre, mas não posso conhecer meu nascimento e minha<br />

morte. Ca<strong>da</strong> sensação, sendo rigorosamente a primeira, a última<br />

e a única de sua espécie, é um nascimento e uma morte.<br />

O sujeito que tem a sua experiência começa e termina com<br />

ela, e, como ele não pode preceder-se nem sobreviver a si, »_<br />

a sensação necessariamente se manifesta a si mesma em um o<br />

meio de generali<strong>da</strong>de, ela provém de aquém de mim mes- I<br />

mo, ela depende de uma sensibili<strong>da</strong>de que a precedeu e que §.<br />

sobreviverá a ela, assim como meu nascimento e minha morte s<br />

pertencem a uma natali<strong>da</strong>de e a uma mortali<strong>da</strong>de anônimas. ° £'<br />

Pela sensação, eu apreendo, à margem de minha vi<strong>da</strong> pes- o S<br />

soai e de meus atos próprios, uma vi<strong>da</strong> de consciência <strong>da</strong><strong>da</strong> *» o<br />

<strong>da</strong> qual eles emergem, a vi<strong>da</strong> de meus olhos, de minhas mãos, ' J?<br />

de meus ouvidos, que são tantos Eus naturais. To<strong>da</strong> vez que çexperimento<br />

uma sensação, sinto que ela diz respeito não ao<br />

meu ser próprio, aquele do qual sou responsável e do qual<br />

decido, mas a um outro eu que já tomou partido pelo mundo,<br />

que já se abriu a alguns de seus aspectos e sincronizou-se<br />

a eles. Entre minha sensação e mim há sempre a espessura<br />

de um saber originário que impede minha experiência de ser<br />

clara para si mesma. Experimento a sensação como mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de<br />

de uma existência geral, já consagra<strong>da</strong> a um mundo físico,<br />

e que crepita através de mim sem que eu seja seu autor.<br />

2? A sensação só pode ser anônima porque é parcial. Aquele<br />

que vê e aquele que toca não sou exatamente eu mesmo, porque<br />

o mundo visível e o mundo tangível não são o mundo<br />

por inteiro. Quando vejo um objeto, sinto sempre que ain<strong>da</strong><br />

existe ser para além <strong>da</strong>quilo que atualmente vejo, não ape-

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