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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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336 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

se opera na obscuri<strong>da</strong>de. Enquanto massa de <strong>da</strong>dos táteis,<br />

labirínticos, cinestésicos, o corpo não tem mais orientação defini<strong>da</strong><br />

do que os outros conteúdos, e também ele recebe essa<br />

orientação do nível geral <strong>da</strong> experiência. A observação de<br />

Wertheimer mostra justamente como o campo visual pode impor<br />

uma orientação que não é a do corpo. Mas se o corpo,<br />

enquanto mosaico de sensações <strong>da</strong><strong>da</strong>s, não define nenhuma<br />

direção, ao contrário o corpo enquanto agente desempenha<br />

um papel essencial no estabelecimento de um nível. As variações<br />

do tônus muscular, mesmo com um campo visual pleno,<br />

modificam a vertical aparente a ponto de o sujeito inclinar<br />

a cabeça para situá-la paralelamente a essa vertical<br />

desvia<strong>da</strong> 15 . Seríamos tentados a dizer que a vertical é a direção<br />

defini<strong>da</strong> pelo eixo de simetria de nosso corpo enquanto<br />

sistema sinérgico. Mas to<strong>da</strong>via meu corpo pode mover-se sem<br />

arrastar consigo o alto e o baixo, como quando me deito no<br />

chão, e a experiência de Wertheimer mostra que a direção<br />

objetiva de meu corpo pode formar um ângulo apreciável com<br />

a vertical aparente do espetáculo. O que importa para a orientação<br />

do espetáculo não é meu corpo tal como de fato ele é,<br />

enquanto coisa no espaço objetivo, mas meu corpo enquanto<br />

sistema de ações possíveis, um corpo virtual cujo "lugar" fenomenal<br />

é definido por sua tarefa e por sua situação. Meu<br />

corpo está ali onde ele tem algo a fazer. No momento em que<br />

o paciente de Wertheimer toma lugar no dispositivo preparado<br />

para ele, o campo de suas ações possíveis — tais como<br />

an<strong>da</strong>r, abrir um armário, utilizar uma mesa, sentar-se — desenha<br />

diante dele, mesmo se ele está com os olhos fechados,<br />

um habitat possível. A imagem do espelho lhe dá primeiramente<br />

um quarto diferentemente orientado, quer dizer, o sujeito<br />

não está às voltas com os utensílios que ele inclui, o sujeito<br />

não o habita, não coabita com o homem que ele vê ir<br />

e vir. Após alguns minutos, e sob a condição de que ele não<br />

reforce sua ancoragem inicial dirigindo os olhos para fora do

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