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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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540 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

gem verbal, mostrando que o sujeito falante se lança na fala<br />

sem representar-se as palavras que vai pronunciar, a psicologia<br />

moderna elimina a palavra como representação, como<br />

objeto para a consciência, e desvela uma presença motora <strong>da</strong><br />

palavra que não é o conhecimento <strong>da</strong> palavra. A palavra "granizo",<br />

quando eu a conheço, não é um objeto que eu reconheça<br />

por uma síntese de identificação, ela é um certo uso<br />

de meu aparelho de fonação, uma certa modulação de meu<br />

corpo enquanto ser no mundo, sua generali<strong>da</strong>de não é a generali<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong> idéia, mas a de um estilo de conduta que meu<br />

corpo "compreende" enquanto ele é uma potência de fabricar<br />

comportamentos e em particular fonemas. Um dia eu<br />

"apanhei" a palavra granizo assim como se imita um gesto,<br />

quer dizer, não decompondo-a e fazendo corresponder a ca<strong>da</strong><br />

parte <strong>da</strong> palavra ouvi<strong>da</strong> um movimento de articulação e<br />

de fonação, mas escutando-a como modulação única do mundo<br />

sonoro, e porque esta enti<strong>da</strong>de sonora se apresentava como<br />

'' algo a pronunciar'' em virtude <strong>da</strong> correspondência global<br />

que existe entre minhas possibili<strong>da</strong>des perceptivas e minhas<br />

possibili<strong>da</strong>des motoras, elementos de minha existência<br />

indivisa e aberta. A palavra nunca foi inspeciona<strong>da</strong>, analisa<strong>da</strong>,<br />

conheci<strong>da</strong>, constituí<strong>da</strong>, mas apanha<strong>da</strong> e assumi<strong>da</strong> por<br />

uma potência falante e, em última análise, por uma potência<br />

motora que me foi <strong>da</strong><strong>da</strong> com a primeira experiência de meu<br />

corpo e de seus campos perceptivos e práticos. Quanto ao sentido<br />

<strong>da</strong> palavra, eu o aprendo assim como aprendo o uso de<br />

um utensílio, vendo-o empregado no contexto de uma certa<br />

situação. O sentido <strong>da</strong> palavra não é feito de um certo número<br />

de caracteres físicos do objeto, ele é antes de tudo o aspecto<br />

que o objeto assume em uma experiência humana, por<br />

exemplo meu espanto diante destes grãos duros, friáveis e dissolventes<br />

que caem prontos do céu. É um encontro entre o<br />

humano e o inumano, é como um comportamento do mundo,<br />

uma certa inflexão de seu estilo, e a generali<strong>da</strong>de do sen-

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