12.04.2013 Views

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

494 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

To<strong>da</strong>via, não se trata de <strong>da</strong>r razão ao realismo, e há uma<br />

ver<strong>da</strong>de definitiva no retorno cartesiano <strong>da</strong>s coisas ou <strong>da</strong>s<br />

idéias ao eu. A própria experiência <strong>da</strong>s coisas transcendentes<br />

só é possível se eu trago e encontro em mim mesmo seu projeto.<br />

Quando digo que as coisas são transcendentes, isso significa<br />

que eu não as possuo, não as percorro, elas são transcendentes<br />

na medi<strong>da</strong> em que ignoro aquilo que elas são e em<br />

que afirmo cegamente sua existência nua. Ora, que sentido<br />

haveria em afirmar a existência de não se sabe o quê? Se pode<br />

haver alguma ver<strong>da</strong>de nessa afirmação, é porque entrevejo<br />

a natureza ou a essência que ela concerne, é porque, por<br />

exemplo, minha visão <strong>da</strong> árvore enquanto êxtase mudo diante<br />

de uma coisa individual já envolve um certo pensamento de<br />

ver e um certo pensamento <strong>da</strong> árvore; enfim, é porque eu<br />

não encontro a árvore, não estou simplesmente confrontado<br />

com ela, e porque reconheço neste existente em face de mim<br />

uma certa natureza <strong>da</strong> qual formo ativamente a noção. Se<br />

encontro coisas em torno de mim, não pode ser porque elas<br />

estão efetivamente ali, pois desta existência de fato, por hipótese,<br />

eu na<strong>da</strong> sei. Se sou capaz de reconhecer a coisa, é<br />

porque o contato efetivo com ela desperta em mim uma ciência<br />

primordial de to<strong>da</strong>s as coisas, e porque minhas percepções<br />

finitas e determina<strong>da</strong>s são as manifestações parciais de<br />

um poder de conhecimento que é coextensivo ao mundo e que<br />

o desdobra de um lado a outro. Se imaginamos um espaço<br />

em si com o qual o sujeito que percebe viria a coincidir, por<br />

exemplo se imagino que minha mão percebe a distância entre<br />

dois pontos prendendo-se a eles, como o ângulo que meus<br />

dedos formam e que é característico dessa distância poderia<br />

ser avaliado, se ele não fosse como que retraçado interiormente<br />

por uma potência que não reside nem em um objeto, nem<br />

no outro, e que por isso mesmo se torna capaz de conhecer,<br />

ou, antes, de efetuar sua relação? Se se quer que a "sensação<br />

de meu polegar" e a de meu indicador sejam pelo menos os

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!