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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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O CORPO 203<br />

sa natureza não é um velho costume, já que o costume pressupõe<br />

a forma de passivi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> natureza. O corpo é nosso<br />

meio geral de ter um mundo. Ora ele se limita aos gestos necessários<br />

à conservação <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e, correlativamente, põe em<br />

torno de nós um mundo biológico; ora, brincando com seus<br />

primeiros gestos e passando de seu sentido próprio a um sentido<br />

figurado, ele manifesta através deles um novo núcleo de<br />

significação: é o caso dos hábitos motores como a <strong>da</strong>nça. Ora<br />

enfim a significação visa<strong>da</strong> não pode ser alcança<strong>da</strong> pelos meios<br />

naturais do corpo; é preciso então que ele se construa um instrumento,<br />

e ele projeta em torno de si um mundo cultural.<br />

Em todos os planos ele exerce a mesma função, que é a de<br />

emprestar aos movimentos instantâneos <strong>da</strong> espontanei<strong>da</strong>de<br />

"um pouco de ação renovável e de existência independente"<br />

112 . O hábito é apenas um modo desse poder fun<strong>da</strong>mental.<br />

Diz-se que o corpo compreendeu e o hábito está adquirido<br />

quando ele se deixou penetrar por uma significação nova,<br />

quando assimilou a si um novo núcleo significativo.<br />

O que descobrimos pelo estudo <strong>da</strong> motrici<strong>da</strong>de é, em suma,<br />

um novo sentido <strong>da</strong> palavra "sentido". A força <strong>da</strong> psicologia<br />

intelectualista, como a <strong>da</strong> filosofia idealista, provém<br />

do fato de que elas não tinham dificul<strong>da</strong>de em mostrar que<br />

a percepção e o pensamento têm um sentido intrínseco e não<br />

podem ser explicados pela associação exterior de conteúdos<br />

fortuitamente reunidos. O Cogito era a toma<strong>da</strong> de consciência<br />

dessa interiori<strong>da</strong>de. Mas através disso mesmo to<strong>da</strong> significação<br />

era concebi<strong>da</strong> como um ato de pensamento, como a<br />

operação de um Eu puro, e, se o intelectualismo prevalecia<br />

facilmente ante o empirismo, ele mesmo era incapaz de <strong>da</strong>r<br />

conta <strong>da</strong> varie<strong>da</strong>de de nossa experiência, <strong>da</strong>quilo que nela<br />

é não-sentido, <strong>da</strong> contingência dos conteúdos. A experiência<br />

do corpo nos faz reconhecer uma imposição do sentido que<br />

não é a de uma consciência constituinte universal, um sentido<br />

que é aderente a certos conteúdos. Meu corpo é esse nú-

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