12.04.2013 Views

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

310 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

não haveria mais nenhuma diferença entre a síntese perceptiva<br />

e a síntese intelectual. A uni<strong>da</strong>de dos sentidos seria <strong>da</strong><br />

mesma ordem que a uni<strong>da</strong>de dos objetos <strong>da</strong> ciência. Quando<br />

ao mesmo tempo eu toco e observo um objeto, o objeto único<br />

seria a razão comum dessas duas aparências, assim como Vênus<br />

é a razão comum <strong>da</strong> Estrela <strong>da</strong> Manhã e <strong>da</strong> Estrela <strong>da</strong><br />

Tarde, e a percepção seria uma ciência principiante 53 . Ora,<br />

se a percepção reúne nossas experiências sensoriais em um<br />

mundo único, não é como a coligação científica junta objetos<br />

ou fenômenos, é como a visão binocular apreende um único<br />

objeto. Descrevamos de perto esta "síntese". Quando meu<br />

olhar está fixado no infinito, tenho uma imagem dupla dos<br />

objetos próximos. Quando por sua vez eu os fixo, vejo as duas<br />

imagens se reaproximarem juntas <strong>da</strong>quilo que vai ser o objeto<br />

único, e desaparecerem nele. Aqui, não se deve dizer que<br />

a síntese consiste em pensá-las em conjunto como imagens<br />

de um único objeto; se se tratasse de um ato espiritual ou de<br />

uma apercepção, ele deveria produzir-se assim que observo<br />

a identi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s duas imagens, quando de fato a uni<strong>da</strong>de do<br />

objeto se faz aguar<strong>da</strong>r por muito mais tempo: até o momento<br />

em que a fixação as escamoteia. O objeto único não é uma<br />

certa maneira de pensar as duas imagens, já que elas deixam<br />

de ser <strong>da</strong><strong>da</strong>s no momento em que ele aparece. A "fusão <strong>da</strong>s<br />

imagens" foi obti<strong>da</strong> então por algum dispositivo inato ao sistema<br />

nervoso, e nós queremos dizer que, no final <strong>da</strong>s contas,<br />

se não na periferia, pelo menos no centro nós temos apenas<br />

uma única excitação media<strong>da</strong> pelos dois olhos? Mas a simples<br />

existência de um centro visual não pode explicar o objeto<br />

único, já que por vezes a diplopia se produz, assim como,<br />

aliás, a simples existência de duas retinas não pode explicar<br />

a diplopia, já que ela não é constante 54 . Se pudermos compreender<br />

a diplopia tanto quanto o objeto único <strong>da</strong> visão normal,<br />

não será pela disposição anatômica do aparelho visual,<br />

mas por seu funcionamento e pelo uso que dele faz o sujeito

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!