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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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88 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

só se concedia à vontade um fiat instantâneo, a execução do<br />

ato cabia inteiramente à mecânica nervosa. O sentir, destacado<br />

assim <strong>da</strong> afetivi<strong>da</strong>de e <strong>da</strong> motrici<strong>da</strong>de, tornava-se a simples<br />

recepção de uma quali<strong>da</strong>de, e a fisiologia acreditava poder<br />

acompanhar, desde os receptores até os centros nervosos,<br />

a projeção do mundo exterior no ser vivo. O corpo vivo<br />

assim transformado deixava de ser meu corpo, a expressão<br />

visível de um Ego concreto, para tornar-se um objeto entre<br />

todos os outros. Correlativamente, o corpo do outro não podia<br />

aparecer-me como o invólucro de um outro Ego. Ele não<br />

era mais do que uma máquina, e a percepção do outro não<br />

podia ser ver<strong>da</strong>deiramente percepção do outro, já que ela resultava<br />

de uma inferência e só colocava atrás do autômato<br />

uma consciência em geral, causa transcendente e não habitante<br />

de seus movimentos. Portanto, não tínhamos mais uma<br />

constelação de Eus coexistindo em um mundo. Todo o conteúdo<br />

concreto dos "psiquismos", resultando, segundo as leis<br />

<strong>da</strong> psicofisiologia e <strong>da</strong> psicologia, de um determinismo de universo,<br />

achava-se integrado ao em si. O único para si ver<strong>da</strong>deiro<br />

é o pensamento do cientista que percebe esse sistema e é<br />

o único a deixar de ali residir. Assim, enquanto o corpo vivo<br />

se tornava um exterior sem interior, a subjetivi<strong>da</strong>de tornava-se<br />

um interior sem exterior, um espectador imparcial. O naturalismo<br />

<strong>da</strong> ciência e o espiritualismo do sujeito constituinte<br />

universal, ao qual chegava a reflexão sobre a ciência, tinham<br />

em comum o fato de nivelarem a experiência: diante do Eu<br />

constituinte, os Eus empíricos são objetos. O Eu empírico é<br />

uma noção bastar<strong>da</strong>, um misto de em si e para si, ao qual<br />

a filosofia reflexiva não podia <strong>da</strong>r estatuto. Enquanto tem um<br />

conteúdo concreto, ele está inserido no sistema <strong>da</strong> experiência,<br />

não é portanto sujeito — enquanto ele é sujeito, é vazio<br />

e se reconduz ao sujeito transcendental. A ideali<strong>da</strong>de do objeto,<br />

a objetivação do corpo vivo, a posição do espírito em<br />

uma dimensão de valor sem comum medi<strong>da</strong> com a natureza,

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