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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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OS PREJUÍZOS CLÁSSICOS E O RETORNO AOS FENÔMENOS 87<br />

o tornam possível. Mesmo se se levassem em conta os avatares<br />

<strong>da</strong> consciência determinante 5 , mesmo se se admitisse que<br />

a constituição do objeto nunca está acaba<strong>da</strong>, na<strong>da</strong> havia para<br />

se dizer do objeto além do que dele diz a ciência, o objeto<br />

natural permanecia para nós uma uni<strong>da</strong>de ideal e, segundo<br />

a célebre expressão de Lachelier, um entrelaçamento de proprie<strong>da</strong>des<br />

gerais. Podia-se retirar todo valor ontológico dos<br />

princípios <strong>da</strong> ciência e deixar-lhes apenas um valor metódico<br />

6 , no essencial esta reserva na<strong>da</strong> mu<strong>da</strong>va na filosofia, já<br />

que o único ser pensável permanecia definido pelos métodos<br />

<strong>da</strong> ciência. Nestas condições, o corpo vivo não podia escapar<br />

às determinações que eram as únicas que faziam do objeto<br />

um objeto, e sem as quais ele não teria lugar no sistema<br />

<strong>da</strong> experiência. Os predicados de valor que o juízo reflexionante<br />

lhe confere deviam ser sustentados no ser por uma primeira<br />

cama<strong>da</strong> de proprie<strong>da</strong>des físico-químicas. A experiência<br />

comum encontra uma conveniência e uma relação de sentido<br />

entre o gesto, o sorriso, o sotaque de um homem que<br />

fala. Mas essa relação de expressão recíproca, que faz o corpo<br />

humano aparecer como a manifestação, no exterior, de<br />

uma certa maneira de ser no mundo, devia resolver-se para<br />

uma fisiologia mecanicista em uma série de relações causais.<br />

Era preciso ligar o fenômeno centrífugo de expressão a condições<br />

centrípetas, reduzir esta maneira particular de tratar<br />

o mundo que é um comportamento a processos em terceira<br />

pessoa, nivelar a experiência na altura <strong>da</strong> natureza física e<br />

converter o corpo vivo em uma coisa sem interior. As toma<strong>da</strong>s<br />

de posição afetivas e práticas do sujeito vivo em face do<br />

mundo eram então reabsorvi<strong>da</strong>s em um mecanismo psicofisiológico.<br />

To<strong>da</strong> avaliação devia resultar de uma transferência<br />

pela qual situações complexas tornavam-se capazes de despertar<br />

as impressões elementares de prazer e de dor, estreitamente<br />

liga<strong>da</strong>s, elas, a aparelhos nervosos. As intenções motoras<br />

do ser vivo eram converti<strong>da</strong>s em movimentos objetivos:

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