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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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NOTAS 619<br />

mundo pelas leis <strong>da</strong> física e <strong>da</strong> psicofisiologia. A sensação que construímos<br />

como o prolongamento "psíquico" <strong>da</strong>s excitações sensoriais não pertence<br />

evidentemente ao naturante universal, e qualquer idéia de uma gênese do<br />

espírito é uma idéia bastar<strong>da</strong>, pois recoloca no tempo o espírito pelo qual<br />

o tempo existe e confunde os dois Eus. Entretanto, se somos este espírito<br />

absoluto, sem história, e se na<strong>da</strong> nos separa do mundo ver<strong>da</strong>deiro, se o eu<br />

empírico é constituído pelo Eu transcendental e desdobrado diante dele, deveríamos<br />

dissipar a opaci<strong>da</strong>de, não se vê como o erro é possível, e menos<br />

ain<strong>da</strong> a ilusão, a "percepção anormal" que nenhum saber pode fazer desaparecer<br />

(Lagneau, Célebre íeçons, pp. 161-162). Pode-se dizer (id., ibid.) que<br />

a ilusão e a percepção inteira estão aquém tanto <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de como do erro.<br />

Isso não nos aju<strong>da</strong> a resolver o problema, já que agora precisamos saber como<br />

um espírito pode estar aquém <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de e do erro. Quando sentimos,<br />

não percebemos nossa sensação como um objeto constituído em uma rede<br />

de relações psicolisiológicas. Não temos a ver<strong>da</strong>de <strong>da</strong> sensação. Não estamos<br />

diante do mundo ver<strong>da</strong>deiro. "É a mesma coisa dizer que somos indivíduos<br />

e dizer que nestes indivíduos há uma natureza sensível na qual algo<br />

não resulta <strong>da</strong> ação do meio. Se na natureza sensível tudo fosse submetido<br />

à necessi<strong>da</strong>de, se houvesse aqui para nós uma maneira de sentir que fosse<br />

a ver<strong>da</strong>deira, se a ca<strong>da</strong> instante nossa maneira de sentir resultasse do mundo<br />

exterior, nós não sentiríamos." (Célebres leçons, p. 164.) Assim, o sentir<br />

não pertence à ordem do constituído, o Eu não o encontra desdobrado diante<br />

de si, ele escapa ao seu olhar, está como que recolhido atrás dele, está aü<br />

como uma espessura ou uma opaci<strong>da</strong>de que torna o erro possível, delimita<br />

uma zona de subjetivi<strong>da</strong>de ou de solidão, representa-nos aquilo que está "antes"<br />

do espírito, ele evoca seu nascimento e reclama uma análise mais profun<strong>da</strong><br />

que esclareceria a '' genealogia <strong>da</strong> lógica''. O espírito tem consciência<br />

de si como "fun<strong>da</strong>do" nessa Natureza. Há portanto uma dialética do naturado<br />

e do naturante, <strong>da</strong> percepção e do juízo, no decorrer <strong>da</strong> qual sua relação<br />

se inverte.<br />

O mesmo movimento se encontra em Alain, na análise <strong>da</strong> percepção.<br />

Sabe-se que uma árvore me parece sempre maior do que um homem, mesmo<br />

se ela está bem distante de mim e o homem bem próximo. Sou tentado<br />

a dizer que "Aqui, novamente, é um juízo que aumenta o objeto. Mas examinemos<br />

mais atentamente. O objeto não é alterado de forma alguma porque<br />

um objeto em si mesmo não tem nenhuma grandeza; a grandeza é sempre<br />

compara<strong>da</strong>, e assim a grandeza destes dois objetos e de todos os objetos<br />

forma um todo indivisível e realmente sem partes; as grandezas são julga<strong>da</strong>s<br />

em conjunto. Através disso, vê-se que não se devem confundir as coisas materiais,<br />

sempre separa<strong>da</strong>s e forma<strong>da</strong>s de partes exteriores umas às outras,<br />

e o pensamento dessas coisas, no qual nenhuma divisão pode ser admiti<strong>da</strong>.<br />

Por mais obscura que seja agora essa distinção, por mais difícil que seja sempre<br />

para se pensar, retenham-na por um instante. Em certo sentido e considera<strong>da</strong>s<br />

enquanto materiais, as coisas estão dividi<strong>da</strong>s em partes e uma não é a<br />

outra; mas, em certo sentido e considera<strong>da</strong>s enquanto pensamentos, as per-

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