12.04.2013 Views

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

O MUNDO PERCEBIDO 433<br />

o núcleo de reali<strong>da</strong>de: uma coisa é coisa porque, o que quer<br />

que nos diga, ela o diz pela própria organização de seus aspectos<br />

sensíveis. O "real" é este meio em que ca<strong>da</strong> coisa é<br />

não apenas inseparável <strong>da</strong>s outras, mas de alguma maneira<br />

sinônima <strong>da</strong>s outras, em que os "aspectos" se significam uns<br />

aos outros em uma equivalência absoluta; ele é a plenitude<br />

intransponível: impossível descrever completamente a cor do<br />

tapete sem dizer que ela é cor de um tapete, de um tapete<br />

de lã, e sem implicar nessa cor um certo valor tátil, um certo<br />

peso, uma certa resistência ao som. A coisa é este gênero de<br />

ser no qual a definição completa de um atributo exige a definição<br />

do sujeito inteiro e em que, por conseguinte, o sentido<br />

não se distingue <strong>da</strong> aparência total. Cézanne dizia ain<strong>da</strong>: "O<br />

desenho e a cor não são mais distintos; à medi<strong>da</strong> que se pinta,<br />

se desenha, quanto mais a cor se harmoniza, mais o desenho<br />

se precisa (...) quando a cor está em sua riqueza, a forma<br />

está em sua plenitude." 56 Com a estrutura iluminaçãoiluminado,<br />

pode haver planos. Com a aparição <strong>da</strong> coisa, enfim<br />

pode haver formas e localizações unívocas. O sistema <strong>da</strong>s<br />

aparências, os campos pré-espaciais ancoram-se e enfim tornam-se<br />

um espaço. Mas não são apenas os caracteres geométricos<br />

que se confundem com a cor. O próprio sentido <strong>da</strong><br />

coisa se constrói sob nossos olhos, um sentido que nenhuma<br />

análise verbal pode esgotar e que se confunde com a exibição<br />

<strong>da</strong> coisa em sua evidência. Ca<strong>da</strong> aplicação de cor que Cézanne<br />

faz deve, como diz E. Bernard, "conter o ar, a luz,<br />

o objeto, o plano, o caráter, o desenho, o estilo" 57 . Ca<strong>da</strong><br />

fragmento de um espetáculo visível satisfaz a um número infinito<br />

de condições, e é próprio do real contrair uma infini<strong>da</strong>de<br />

de relações em ca<strong>da</strong> um de seus momentos. Assim como<br />

a coisa, o quadro é para ver e não para definir, mas<br />

enfim, se ele é como um pequeno mundo que se abre no outro,<br />

ele não pode pretender à mesma solidez. Sentimos que<br />

ele é fabricado propositalmente, que nele o sentido precede

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!