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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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O CORPO 157<br />

zer com que a parte toca<strong>da</strong> de seu corpo passe ao estado de<br />

figura, para saber onde o tocam. Mas no normal ca<strong>da</strong> estimulação<br />

corporal desperta, em lugar de um movimento atual,<br />

um tipo de ''movimento virtual''; a parte interroga<strong>da</strong> do corpo<br />

sai do anonimato, anuncia-se por uma tensão particular<br />

e como uma certa potência de ação no quadro do dispositivo<br />

anatômico. No sujeito normal, o corpo não é mobilizável apenas<br />

pelas situações reais que o atraem a si, ele pode desviarse<br />

do mundo, aplicar sua ativi<strong>da</strong>de nos estímulos que se inscrevem<br />

em suas superfícies sensoriais, prestar-se a experiências<br />

e, mais geralmente, situar-se no virtual. É por estar encerrado<br />

no atual que o tocar patológico precisa de movimentos<br />

próprios para localizar os estímulos, e é ain<strong>da</strong> pela mesma<br />

razão que o doente substitui o reconhecimento e a percepção<br />

táteis pela decifração laboriosa dos estímulos e pela<br />

dedução dos objetos. Para que uma chave, por exemplo, apareça<br />

como chave em minha experiência tátil, é necessário um<br />

tipo de amplitude do tocar, um campo tátil em que as impressões<br />

locais possam integrar-se em uma configuração, assim<br />

como as notas são apenas os pontos de passagem <strong>da</strong> melodia;<br />

e a mesma viscosi<strong>da</strong>de dos <strong>da</strong>dos táteis que sujeita o<br />

corpo a situações efetivas reduz o objeto a uma soma de "caracteres"<br />

sucessivos, a percepção a uma caracterização abstrata,<br />

o reconhecimento a uma síntese racional, a uma conjectura<br />

provável, e retira do objeto sua presença carnal e sua<br />

factici<strong>da</strong>de. Enquanto no normal ca<strong>da</strong> acontecimento motor<br />

ou tátil faz alçar à consciência uma abundância de intenções<br />

que vão, do corpo enquanto centro de ação virtual, seja em<br />

direção ao próprio corpo, seja em direção ao objeto, no doente,<br />

ao contrário, a impressão tátil permanece opaca e fecha<strong>da</strong><br />

sobre si mesma. Ela pode atrair para si â mão em um movimento<br />

de pegar algo, mas não se dispõe diante desta Como<br />

algo que se possa mostrar. O normal conta com o possível, que<br />

assim adquire, sem abandonar seu lugar de possível, um ti-

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